Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







sábado, 6 de agosto de 2011

Para dirimir dúvidas sobre a data do padroeiro

Publiquei um pequeno trecho do meu trabalho sobre a festa do padroeiro e muita gente me ligou para saber mais sobre o 6 de agosto,  sobre o calendáriio juliano, sobre a igreja... por isso, acrescento outro trecho do trabalho, para esclarecer que o calendário atual foi instituído pelo Papa Gregório. O calendário ficou conhecido como calendário gregoriano.  


Não dá para publicar, aqui, o trabalho todo. Espero que haja interesse de alguma instituição para a edição do livro, que será importante para pesquisadores, estudantes e professores e, claro, para os religiosos, pois a grande maioria desconhece a história da nossa maior festa, da catedral diocesana, da praça do Santíssimo, do 6 de agosto... mas alguns poucos dados são suficientes para o entendimento de alguns curiosos e, até, para aguçar a curiosidade de muitos.

Então, vamos lá:

A explicação sobre o calendário é importante porque: primeiro, a transfiguração de Jesus teria ocorrido em agosto, ou seja, um mês que foi criado pelos romanos, sabidamente perseguidores de cristãos, para homenagear um imperador; e segundo, porque, mesmo com 12 meses, permaneceu a denominação anterior para os demais, assim, o ano termina em dezembro, de dez, mas nos referimos ao mês como doze. Assim como novembro é nove e, para nós, é onze. Outubro é oito e, para nós, é dez etc. No caso de quintilis (julho) e sextilis (agosto), que significam cinco e seis, registre-se mais uma vez que o ano começava em março. Assim, o quinto mês era julho e o sexto, agosto, diferentemente da pós-mudança, quando o início do ano passou a ser janeiro.

Em 1582 o Papa Gregório XIII, seguindo conselho de astrônomos, corrigiu a diferença entre o sol e o calendário juliano, ordenando a retirada de dez dias de outubro. Assim, o 05 de outubro de 1582 passou a ser 15 de outubro. Este mesmo Papa decretou que fevereiro teria um dia a mais nos anos centenários que fossem divisíveis por 400 (como 1600, 2000) mas não nos outros (como 1700, 1800, 1900). Assim o calendário juliano, aperfeiçoado pelo Papa Gregório, passou a ser conhecido como calendário gregoriano.


Pois bem, quando os portugueses aportaram no Brasil, trouxeram os ensinamentos cristãos, o seu calendário e a importância das suas datas religiosas. Cristãos eram os que exterminaram os nativos da planície, os goitacás. Também os que dominaram a Capitania de São Thomé, depois, Paraíba do Sul, até a elevação à Vila, em 29 de maio de 1677, com a denominação de Villa de San Salvador dos Campos, uma realização do ex-governador do Rio de Janeiro e dono da Capitania (que depois passou para seus filhos) general Salvador Corrêa de Sá e Benevides (ou Benavides). A transfiguração de Jesus, que tinha muita significação entre a cristandade na Europa, foi introduzida no Brasil, como se observa, pelos portugueses que, a despeito de escravizarem índios e negros, eram fervorosos cristãos.


Como o fundador da Vila tinha o nome de Salvador, o 06 de agosto, festa maior da cidade de Campos, gerou - e ainda gera - especulações e afirmações absurdas, protagonizadas por memorialistas segundo os quais o 06 de agosto é comemorado por ser a data de nascimento de Salvador Corrêa de Sá e Benevides, que deu à Vila seu próprio nome. Não explicam, porém, como a capital da Bahia também se chama São Salvador. Nem como a Igreja Católica perpetuou a data, comemorando-a com fervor, mesmo após todas as transformações internas ocorridas em todo esse tempo. Seria uma insensatez os católicos comemorarem uma data que faz referência e perpetua a memória de um general.


Esta obra pretende dar um fim a esta ignomínia, registrando a festa do padroeiro de Campos e explicando a origem da comemoração do 06 de agosto. Esclarece para os leitores que muitos estudiosos da nossa história estão enganados ao afirmarem que o general, ao (re) construir, em 1652, a capela (onde depois foi erguida a Igreja de São Francisco de Assis), dedicou-a a São Salvador, numa homenagem ao pretenso santo do seu nome e, como não existe nenhum santo chamado Salvador, ele estaria homenageando a si próprio. Também esclarece que Salvador Corrêa de Sá e Benevides não nasceu no Rio de Janeiro, em 06 de agosto de 1594, como procuraram demonstrar esses mesmos memorialistas.


O erro é admissível quando se tenta encontrar a verdade. Mas a busca pela verdade deve ser permanente.

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