Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







terça-feira, 27 de setembro de 2011

Ministério Público Federal processa Edir Macedo por vários crimes

Em 1976, um amigo meu, em Belo Horizonte, insistiu para que nós (eu e ele) críássemos uma religião. Juntaria, segundo ele, a minha inteligência e minha oratória teatral, além de minha postura (eu usava uma imensa barba, usava terno, colete, relógio de bolso e algumas vezes, um sobretudo) e sua esperteza para negócio.

O meu amigo tinha até um nome para a nova religião, que me esqueci. O fato de eu não estar ligado ao todo-poderoso, na sua opinião, não tinha importância, porque era "apenas negócio". Eu representaria um papel e na religião os fiéis não costumam questionar. Para ele, a ditadura estava próximo do fim e o povo precisaria de criar expectativas de melhores dias aqui na terra, o que o catolicismo e as igrejas tradicionais não ofereciam. 

De fato, ele estava com tudo preparado; só faltava alguém com meu perfil, na sua opinião, para liderar o movimento, que nasceria em Belo Horizonte. Acreditava tanto nisso que insistiu comigo durante um bom tempo. Não aceitei, porque não sei enganar. Minha consciência não permite. Sou transparente demais. 

Eis que, no ano seguinte, no Meier, Rio de Janeiro, surge a Universal do Reino de Deus. Fundada no dia 9 de julho de 1977, por Edir Macedo, que começou a pregar num coreto (não tinha sede), a Igreja Universal do Reino de Deus se tornou, em pouco tempo, o primeiro e maior grupo neopentecostal do Brasil e hoje está presente em quase 200 países, segundo a instituição, sendo mais disseminada nos países de língua portuguesa.


Em 1985, a Universal já tinha 195 templos em 14 estados brasileiros e no Distrito Federal. Em 2009, mais de trinta anos após sua fundação, a IURD possuía no Brasil mais de cinco mil templos, treze milhões de fiéis e quase 15 mil pastores. E penetrou nos EUA, na Inglaterra e em países da Europa. Com que dinheiro comprou espaços e templos lá fora? Com o dinheiro dos fiéis brasileiros, é claro. E como esse dinheiro saiu daqui?

Isso começou a ser investigado há alguns anos e, agora, a denúncia formulada pelo Ministério Público Federal de São Paulo contra o fundador da seita, Edir Macedo e mais três, por formação de quadrilha, evasão de divisas e lavagem de dinheiro me fez refletir sobre a idéia do meu amigo mineiro. Não. O dinheiro não faz a minha cabeça. Preciso dele para viver, como todo mundo, mas não em demasia e muito menos enganando pessoas para obtê-lo.
Segundo o MPF-SP, Edir Macedo e os outros três acusados - a diretora financeira Alba Maria Silva da Costa, o bispo da IURD e ex-deputado federal João Batista Ramos da Silva e o bispo Paulo Roberto Gomes da Conceição - montara uma quadrilha para lavar dinheiro da instituição. Os valores seriam remetidos ilegalmente do Brasil para os Estados Unidos por meio de uma casa de câmbio paulista entre os anos de 1999 e 2005.

A denúncia demonstra que a IURD só declara ao Fisco parte do que arrecada junto aos fiéis, apesar de a Igreja ter imunidade tributária - benefício concedido no art. 150, que prevê imunidade do patrimônio, da renda e dos serviços dos templos de qualquer culto. Somente entre 2003 e 2006, a Universal declarou ter recebido pouco mais de R$ 5 bilhões em doações, mas, segundo testemunhas, esse valor pode ser bem maior.

Segundo a denúncia, o dinheiro era obtido por meio de estelionato contra fiéis da IURD, através do "oferecimento de falsas promessas e ameaças de que o socorro espiritual e econômico somente alcançaria aqueles que se sacrificassem economicamente pela Igreja".

O MPF-SP também sustenta que os quatro também praticaram o crime de falsidade ideológica por terem inserido nos contratos sociais de empresas do grupo da IURD composições societárias diferentes das verdadeiras. O objetivo da prática seria ocultar a real proprietária de diversos empreendimentos, a IURD. Todavia, não foi acatada a acusação pelos crimes de estelionato e falsidade ideológica. A Promotoria informou nesta sexta-feira que vai recorrer da decisão no tocante às acusações que foram rejeitadas. Foi decretado o sigilo dos documentos do processo.

Apesar de os fatos denunciados remontarem ao período entre 1999 e 2005, a denúncia cita outras suspeitas de montagem do esquema milionário de envio de dinheiro para o exterior e a criação de empresas de fachada, cujos recursos foram empregados na aquisição de empresas de comunicação.

A Igreja Universal do Reino de Deus expandiu-se e hoje em dia está presente em mais de 180 países do mundo, entre os quais: Portugal, Estados Unidos, Rússia, Hong Kong (RAE da República Popular da China), Japão, França, Índia, Israel, África do Sul, Honduras, Guatemala, Nicarágua, Panamá, Equador, Letônia, Romênia, Botsuana, Namíbia, Moçambique, Angola, Tanzânia, Nova Zelândia, Filipinas, México, Inglaterra, Argentina, Colômbia, Venezuela, Chile, Jamaica, Grécia, Alemanha, Espanha, Itália, Suíça, Peru, Guatemala, entre outros.


Ex-diretor lavrou denúncia antes de morrer

Seis dias antes de morrer em circunstâncias ainda não completamente esclarecidas, o ex-diretor da IURD e ex-vereador na cidade do Rio de Janeiro Waldir Abrão lavrou um documento onde dizia que os dízimos e doações recebidos dos fiéis eram entregues diretamente na tesouraria da IURD, que depositava na conta da Igreja apenas 10% do valor arrecadado, sendo que o restante era recolhido por doleiros e remetido para o Uruguai e outros paraísos fiscais.

De acordo com o MPF-SP, o dinheiro foi usado na constituição de empresas no exterior e após aplicado na compra de meios de comunicação no Brasil, todos registrados em nomes de bispos ou outras pessoas ligadas à IURD. Somente em 1992, a Investholding, uma dessas organizações, "emprestou" para esses diretores e ex-diretores da igreja no Brasil pouco mais de Cr$ 13 bilhões.


Já a Cableinvest, na mesma época, concede a essas mesmas pessoas e no mesmo ano quase Cr$ 18,5 bilhões. Os cheques dos empréstimos nunca chegaram às mãos dos mutuários, mas eram utilizados diretamente na compra das empresas de rádio e televisão.

Em 1997, a Câmara dos Representantes da Bélgica descreveu a Universal como uma "associação criminosa, cujo único objetivo é o enriquecimento", "uma forma extrema de mercantilismo da fé ", cujas "atividades na Bélgica pode ser apenas uma fachada para ocultar atividades ilegais"; em Luxemburgo, "são talvez um sinal de que a organização está também envolvida em lavagem de dinheiro

(Sobre matéria do JB e dados do Wikipedia))

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