Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







sábado, 10 de março de 2012

Mendigos mortos a mando de comerciante

Enquanto a cada dia mais e mais ingênuos, impotentes ante a crueldade da vida e o que a moral (de cada uma das grandes culturas do planeta) classifica de injusto, tentam acreditar no destino e/ou num ser todo poderoso capaz de por ordem no "caos" e enquanto os oportunistas usam os mesmos argumentos para cooptar os incautos e enriquecerem às suas custas, a realidade nua e crua continua desvelando o animal humano que, sem a máscara da "civilização", mostra-se em toda sua plenitude.

Não é necessário entender Hobbes. Basta usar o raciocínio e suspender os juízos para que possamos ver como realmente é o que chamamos de humanos. Sem a coerção, sem a ameaça do castigo terreno às infrações, mesmo que muitas vezes erros graves sejam cometidos, não haveria poder divino que evitasse que o humano fosse o que realmente é. Não falemos de exceções, que aceitam as regras morais e usam o bom senso. Estes são poucos. Uma ínfima minoria neste mundo de 7 bilhões de humanos. 

E, para além dos delitos diários, dos crimes diários, acontecem, pontualmente, em todos os continentes e em todas as culturas, fatos que revelam um retorno às práticas criadas pelos primeiros animais que se tornaram humanos. Práticas, alíás, que são perpetuadas (cada vez menos, é bom que se diga) por aqueles que têm fé em seus deuses, sejam eles cristãos, maometanos, budistas e outros menos cotados. 

È por isso que um comerciante cristão, para se ver livre de alguns mendigos (que, para a burguesia, são os ratos do terceiro milênio), pagou para que um grupo de mendigos levassem "um susto". Eles incomodavam, pois estavam próximos à sua mercearia. Os que receberam o dinheiro do comerciante deram o tal susto. Depois, foram além e despejaram gasolina nos mendigos e atearam fogo no grupo.

A jornalista Júlia Borba, da Folha de São Paulo escreveu:  "Dois moradores de rua foram mortos na manhã deste sábado em Taguatinga, cidade satélite de Brasília. Segundo informações da polícia, eles foram assassinados com um tiro na cabeça. As investigações ainda estão em estágio preliminar. Até o momento, não foram encontrados suspeitos e as testemunhas estão sendo ouvidas.

O caso ocorreu exatamente duas semanas depois que sete homens incendiaram dois mendigos em Santa Maria, outra cidade satélite da capital federal. Um deles teve 63% do corpo queimado, não resistiu aos ferimentos e morreu no dia seguinte. O outro teve queimaduras em 22% do corpo e continua internado no hospital da cidade em estado grave.

Na terça-feira (6), a polícia conseguiu identificar e prender os homens que participaram do crime de Santa Maria. O mandante era o dono de uma marcenaria e pagou R$ 100 para que os demais dessem 'um susto' nos moradores de rua. Em depoimento ele informou que a presença dos mendigos prejudicava o comércio.


Mendigo queimado em Mato Grosso

Um morador de rua teve 40% do corpo queimado, em Campo Grande (MS), na madrugada deste sábado. Ele está internado na Santa Casa em estado grave.

Segundo o Corpo de Bombeiros, Levi da Costa, 22, estava no bairro Jardim Monte Verde, zona norte da capital, quando foi amarrado por dois homens e uma mulher que chegaram em duas motos, por volta das 3h. Depois de imobilizar Levi, os agressores atearam fogo ao corpo dele. O jovem teve queimaduras de primeiro grau no rosto e no pescoço, e de segundo grau nos braços. Ele está sedado.


Índio Galdino lembrado
Outro caso de morte brutal, em Brasília, completa 15 anos no próximo dia 20 de abril. Cinco rapazes, de classe média, atearam fogo no índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, 44, que dormia em uma parada de ônibus na Asa Sul, bairro nobre da capital Federal.

O índio morreu horas depois, com 95% do corpo queimado. Galdino havia chegado a Brasília no dia anterior, 19 de abril, Dia do Índio.
(Sobre matéria de Júlia Borba, na Folha de São Paulo)

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