Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







sábado, 31 de março de 2012

48 anos do golpe militar - antecedentes

“Este é tempo de divisas, tempo de gente cortada... É tempo de meio silêncio, de boca gelada e murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina.”

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

“Dormia a nossa Pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações.”

CHICO BUARQUE DE HOLLANDA

48 anos do golpe militar - antecedentes:
 
Desde que James Monroe, em 1822 proclamou a Doutrina clássica que levaria o seu nome e nortearia a administração estadunidense por muitos anos face ao colonialismo da Europa. “A América (inteira) para os Americanos (dos EUA)”.
 
Ao final da Segunda Guerra Mundial os EUA buscam exercer diretamente a sua hegemonia sobre todas as Nações, muito particularmente as que consideram “seu quintal”, a América Latina.
 
A onda nacionalista das primeiras décadas do século XX em nosso hemisfério, destacando-se Perón na Argentina e Vargas no Brasil) contrariava os interesses do empresariado internacional representado pelo governo dos EUA que, desde sempre, fez carga contra tais políticas.

Getúlio Vargas conseguiu, com o suicídio em agosto de 1954, acertar a um só tempo a oposição a ele (local, mas com raízes profundas em Washington) e retardar o golpe militar no Brasil por 10 anos. Isso, além da melhor legislação trabalhista e previdenciária que o país já teve, a ele devemos, em que pesem eventuais desavenças que com ele possamos ter.


Mas a revolução cubana, com a queda do ditador Fulgêncio Batista, protegido pelos americanos, e a tomada do poder por Fidel Castro e Ernesto Guevara, motivou os ianques a voltarem a carga, desta feita com um aparato nunca antes imaginado: criaram instituições "democráticas" como o IPES e o IBADE, institutos que contrataram intelectuais - sociólogos, jornalistas, historiadores, pesquisadores - para uma campanha inteligente e sem trégua que desgastasse o Governo.

Jânio Quadros, que vencera a eleição presidencial em 1960, acusa as "forças ocultas" e renuncia meses após a posse. Era o momento do golpe. O vice, João Goulart, estava na China. Os golpistas pensaram em assassinar Goulart derrubando seu avião quando regressasse. Não contavam com aquele que, depois, foi considerado inimigo público nº 1 dos EUA: Leonel de Moura Brizola, governador do Rio Grande.

Goulart, em vez de seguir para a capital (Brasília), dá uma volta e entra no país pelo Rio Grande do Sul. Brizola monta a Cadeia da Legalidade com um programa de rádio retransmitido em todo o país. Com, apoio do III Exército, transforma o Palácio Piratini numa fortaleza. Ele próprio só andava de metralhadora em punho. Os golpistas ameaçam bombardear o Palácio, onde Brizola está entrincheirado. O governador sulista queria apenas uma coisa: respeito à Constituição.

Os golpistas recuam, mas não aceitam Goulart na Presidência. Entra a turma da conciliação, com Tancredo Neves à frente e a maneira de Goulart assumir sem traumas é a aprovação da Emenda Constitucional que estabelece o Parlamentarismo. Goulart presidiria o país, mas não mandaria, pois o poder ficaria com o Primeiro Ministro. Goulart aceita o pacto e o próprio Tancredo é escolhido Primeiro Ministro. 

Insatisfeito com o arranjo, Brizola muda-se para o Rio de Janeiro (caixa de ressonância nacional) e elege-se deputado federal. Sua missão como parlamentar: mobilizar as forças democráticas do país para derrubar a emenda parlamentarista. Após meses e meses de campanha, a emenda é colocada em votação para que o povo opine: SIM ou NÃO ao parlamentarismo? E o povo disse NÃO. Brizola saiu vencedor. 

Mas quando Jango reassume o poder executivo, o estrago na base, na opinião pública, já estava feito. Quando anuncia as reformas de base no famoso Comício da Central do Brasil, já estava tudo armado para o golpe. E no dia 1º de abril (virada da noite de 31 de março para 1º de abril) os militares de Minas Gerais e Rio de Janeiro, com apoio dos governadores desses dois estados, desfecham o golpe. Em poucas horas, muitos outros Estados aderiram e os EUA apressaram-se a reconhecer os golpistas como representantes legitimos do povo brasileiro.

Brizola tentou resistir a partir do Rio Grande, mas Goulart não queria derramamento de sangue. Sabia que os americanos estavam na costa brasileira aguardando uma ordem para dar apoio armado aos golpistas. As classes médias,os ricos, empresários, industriais e latifundiários comemoraram. A Igreja agradeceu a Deus pelo golpe. Inclusive Dom Helder Câmara. Ulisses Guimarães também. Juscelino, que desejava ser candidato à Presidência novamente em 1965, agradeceu porque Brizola estava fora do páreo, já que fugira e se refugiara no Uruguai. 

Depois, todos eles se arrependeram. Muitos, inclusive o ex-governador Carlos Lacerda, foram ao Uruguai para pedir a Goulart e Brizola que liderassem a resistência ao golpe. Ironia do destino? O Fato é que a ditadura consolidou-se e durou o quanto eles quiseram. Perseguiram, cassaram, torturaram e mataram quantos quiseram. Americanizaram o país. Imbecilizaram as gerações das décadas de 1960 e 1970 e criaram a Globo para ser porta-voz da nova era. 

Sem o conhecimento da história nos últimos 50 anos, nada saberemos sobre a imbecilidade reinante.

Brizola não se separava de sua metralhadora

Brizola examina a barricada no Palácio 

Brizola examina as armas na preparação para a resistência


Carlos Contursi, jornalista e amigo de Brizola, narra um fato desconhecido para a maioria e que deve ser conhecido e lembrado quando se fizer referência aos antecedentes do golpe militar de 1964. Trata-se da batida do avião que incendiou-se. nele estavam Brizola, 03 ministros de Jango, o próprio Carlos Contursi, que fez as fotos e mais 58 passageiros.

"Às 18h40min do dia 27 de setembro de 1961, um mês e três dias após o ato de renúncia de Jânio Quadros, que desencadeou a crise nacional, o avião Caravelle PP-VJD aproximava-se da cabeceira da pista 10 do aeroporto de Brasília, levando a bordo 63 passageiros e oito tripulantes, quando bateu violentamente contra o solo e incendiou-se. Além do governador Brizola e sua comitiva, três ministros do governo Jango – que havia tomado posse contrariando a vontade de alguns militares golpistas no dia 7 do mesmo mês – estavam entre os passageiros."

Imagem do avião após os bombeiros terem apagado o fogo

Amanhã, dia 1º de abril, o dia do golpe, vou postar um texto sobre alguns acontecimentos daquele fatídico dia e trechos do último discurso do Brizola na Cadeia da Legalidade para os poucos leitores  interessados na nossa história.

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