Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







terça-feira, 15 de maio de 2012

A Jony Willian, para reflexão

Alguém cria uma associação. Por meio dela, propõe a uma parcela da comunidade prestar serviços. Na esfera política, reúne moradores para lutar por seus bairros, na esfera do meio ambiente, reúne ambientalistas para lutar pela preservação ambiental, na esfera cultural, reúne artistas de teatro, ou de música, ou artistas plásticos para lutar por espaços e eventos. E assim por diante, abrangendo todo tecido social.  

Porém, grande parte dessas associações, senão a maioria, quer se manter com dinheiro público. Muitos acreditam que têm direito ao dinheiro público. E eu pergunto: se o dinheiro é público, por que não cobrar dos administradores desse dinheiro, o atendimento às demandas da sociedade. O que já é feito, aliás, mesmo com as associações. 

Que os dirigentes dessas entidades reivindiquem apoio, particular e público, entende-se que é um direito. O que não quer dizer que seja um dever do particular ou público apoiar essa ou aquela entidade. Todas sentem-se no direito de ter verbas públicas para existirem e/ou praticarem suas ações. Parcela da sociedade é induzida pelas lideranças de algumas entidades a acreditar que é um dever do poder público dar o dinheiro para a manutenção das suas ações. 

É o que ocorre com o Centro Cultura Musical, uma escola de música cujo dono acredita que é dever do poder público manter projetos por ele criados para ensinar crianças e jovens a serem músicos. Quer fazer um bem, prestar um serviço que acredita ser importante (os artistas de teatro também têm seus projetos, assim como todas as demais esferas culturais ou não), com o dinheiro do povo. Direito seu de reivindicar, não se discute. Mas conduzir aprendizes e seus pais à rua para protestos contra o poder público é superestimar-se.

Se o poder público é que mantém essa ou aquela entidade, por que as lideranças dessa ou daquela entidade agem como se particulares fossem? Claro que o poder público permite. Mas não é o que penso, particularmente, que deveria prevalecer. Quando lideranças de entidades buscam as ruas para obterem apoio da sociedade a favor de seus projetos e ações e contra o poder público, extrapolam a esfera comunitária e de classe e ingressam na esfera político/partidária. Sugiro então que não usem de subterfúgios, nem mantenham veladas suas intenções. 

A melhor maneira de se fazer isso é o que fazemos nós: ingressa-se numa agremiação partidária e concorre-se a uma eleição com uma proposta que, por ter que ser mais ampliada, contemple todas as associações (que, ao final, similariza com qualquer proposta de governo, pois busca ela, em forma de programa, atender as demandas de toda a sociedade). Ou ainda: pode apoiar a liderança que, teoricamente, vai atender seus pleitos. 

Tentar causar danos ao poder público apenas porque este não manteve seus projetos é nivelar por baixo o discurso, é mediocrizar o debate. Ao mesmo tempo, é atender o próprio ego, sobrepondo suas ações às demais dos outros atores sociais que atuam associativamente. 

Lembro-me de alguns discursos de Jony Willian num passado não muito distante. Sempre favorável às artes e aos artistas da terra, no que concordamos plenamente. Todavia, nem ele nem seus assistidos dão o mínimo valor para as outras artes, como se a que ensina fosse a mais importante de todas.

Quando seus assistidos participam de um evento, são levados e apresentados como estrelas e, após os aplausos, merecidos, recolhem seus instrumentos e saem do recinto mesmo que o evento a seguir seja cultural. Um direito dele e de seus assistidos, mas Jony Willian não parece aceitar a miopia dos outros, sejam poetas, literatos, artistas de teatro, ou mesmo da música, desque que não sejam seus assistidos os executores.   

  

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