Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







sábado, 13 de dezembro de 2014

"O caminho é pela esquerda": Fernando Machado

"O caminho é pela esquerda"

1972, auge da repressão militar no Brasil. Meu avô Fernando Tavares Machado, é preso em sua residência no bairro da Pecuária, em Campos dos Goytacazes-RJ. O motivo: guardava um exemplar do jornal "Voz Operária", que segundo o DOPS "atentava contra a Segurança Nacional". Com ele também foi levado um caderninho escolar de sua filha, então com 12 anos de idade só porque este era da marca "Companheiro. O outro filho, de 9 anos, também assiste a tudo acompanhado da mãe.

Fernando Machado ficou sete meses preso em Água Santa, que segundo ele mesmo afirmou ao meu pai: "De santa não tinha nada". Perguntado por mim se tinha sido torturado, contou que "apenas" levou uns chutes no calcanhar. Mas para meu pai ele contou que levou uns "telefones", como são chamados aqueles tampões nos ouvidos. Mas segundo companheiros dele, meu avô deu o melhor depoimento dos presos de Campos, não dedurou ninguém - era para isto que servia a censura, para entregar companheiros. Solto, foi anistiado pelo Ministério da Justiça.

Por tudo isto, que considero um absurdo quando alguém defende a volta da ditadura. Alegam que na época não tinha corrupção e violência. "Podia-se sair de casa tranquilo. Ficar até tarde na rua", dizem alguns. Mas como não tinha violência? E o que acontecia nos chamados porões da ditadura, não era violência? E contra pessoas inocentes. Detalhe que meu avô não aderiu à luta armada. Era um líder sindical. Quanto à corrupção, o que se sabe é que era jogada para debaixo do tapete e não vinha à tona, mas existia. 

Com a abertura dos arquivos, incentivada pela Comissão da Verdade, até a emissora de televisão que apoiou o golpe e fez um mea culpa, tem divulgado o que aconteceu na época. Cada vez sinto mais orgulho da presidenta Dilma, que assim como meu avô, foi perseguida e presa pela ditadura. Dilma chorou recentemente em um discurso sobre o assunto. Quando pensar em me "endireitar", vou lembrar das palavras do meu avô comunista no hospital: "O caminho é pela esquerda"! Meu avô faleceu no dia 25 de novembro no Hospital Beneficência Portuguesa, em Campos dos Goytacazes-RJ, vítima de leucemia aguda.


Wesley Machado

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