Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







sábado, 30 de outubro de 2010

A astronauta Anousheh Ansari autografa seu livro na Bienal



O livro de Anousheh é muito interessante. Lançado nos EUA há três meses, será lançado na Bienal de Campos, em português, no dia 9, juntamente com o também primeiro livro do astronauta Marcos Pontes. Sei que pode ser maçante, mas publico, abaixo, um pequeno trecho do livro que, por certo, vai gerar curiosidade em quem deseja conhecer a história de uma menina iraniana que tornou-se multimilionária e realizou seu sonho: viajar no espaço.

MEU SONHO DAS ESTRELAS
Autobiografia de Anousheh Ansari, escrita por Homer Hickman

Prefácio

Chame isto de uma estória de amor, embora ela leve ao encontro de uma fortuna e às distantes e magníficas extensões do espaço. Quando tudo foi feito e eu tinha aterrissado ao lado de paraquedas sedosos, embaixo de um céu leitoso infinito dos desertos altos do Cazaquistão, eu percebi que o que tinha me carregado àquela ilha resplandecente, mais alta que a mais alta das montanhas, e depois me trazido de volta, a bordo de uma estrela cadente, não foi apenas minha determinação em alcançar as estrelas, mas sim o amor. O amor, eu compreendi, até mesmo quando eu estava sendo carregada da minha nave queimada e fumegante, era mais do que uma dor no coração saudoso. O amor é o poder infinito das esperanças e sonhos que transcende tudo, até mesmo os princípios universais da física. O quê, afinal, seria o Universo e suas bilhões de galáxias e trilhões de estrelas, sem o amor? Neste sentido, o que seríamos nós? Apenas substância sem propósito.

A qualquer lugar aonde vou, pedem-me para contar a estória de como eu voei para o espaço. Eu fico contente em contá-la; no entanto, às vezes, temo que minhas palavras sejam inadequadas para explicar a paixão, as alegrias e, às vezes, o desespero por que passei durante cada estágio da jornada. Quando falo diante de grupos, eu me pergunto se há algumas pessoas na platéia que pensam que o único motivo de eu ter ido para o espaço foi porque eu tinha muito dinheiro e queria uma viagem emocionante. Ou talvez eles me vejam como uma mulher desesperada para se tornar famosa e disposta a arriscar a sua própria vida para alcançar o seu objetivo. Esta incerteza tem-me impedido de fazer muito mais do que recitar os fatos do que fiz, mantendo a estória verdadeira para mim mesma. Este livro é minha oportunidade de contar o milagre do meu voo e todos os eventos que o antecederam.

Na Estação Espacial Internacional, eu me lembro de ter observado o brilho do Sol, enquanto ele começava a nascer. Da minha posição vantajosa, 352 quilômetros acima da superfície terrestre, eu podia ver os fios luzentes de ouro e prata, ao longo da circunferência da Terra, que anunciavam um novo amanhã. Eu me encontrava encantada, não apenas com essa aparição gloriosa, mas também com todos os amanhãs vindo até mim; um em cima do outro, enquanto eu navegava, seguramente, em volta do mundo, dentro do meu casulo de alumínio. Quando eu estava no espaço, eu estava livre, de várias maneiras, de todas as aflições normais que preocupavam diariamente as mentes da humanidade. Eu tinha sido abençoada, não apenas com a oportunidade de sonhar com as estrelas, mas também com a possibilidade de voar entre elas.

Apesar de bonita, a seu modo, eu não ficava tão encantada quando o Sol desenhava uma sombra profunda sobre o planeta Terra, apagando os continentes e mares. Para mim, aquela escuridão invasora era ontem, e o ontem pouco me interessa. Eu não posso fazer nada com o ontem, mas o amanhã eu posso moldar e tornar brilhante. Estou determinada a subir tão alto quanto eu puder, sem ser restringida pelo passado. Embora alguns possam dizer que o passado é o principal premonitor do futuro, eu acredito firmemente que não é assim. O passado se foi; foi feito; e acabou. Independentemente do que aconteceu ontem, só o amanhã realmente importa. Cada molécula no meu corpo está focada no próximo nascer do Sol e em todos os outros que virão.

Enquanto escrevo isto estou na Terra, por isso preciso esperar 24 horas para ver a glória exaltante de um novo amanhecer. E como eram tão mais gloriosos aqueles nasceres do Sol vistos do espaço. Eu quero vê-los de novo. Eu quero que todos os vejam. Uma das coisas que eu espero mudar um dia é fazer do voo espacial uma coisa normal. Eu quero que seja tão fácil quanto comprar uma passagem de avião. Essa é minha esperança e meu plano.

Foguetes que vão para o espaço profundo usam propulsores empilhados, chamados de estágios. À medida que cada estágio se esgota, ele é deixado para trás, enquanto que o próximo propulsiona o foguete cada vez mais alto. Assim como eu já voei para o espaço, a bordo de um foguete com múltiplos estágios, convido você a fazer essa viagem comigo através dos estágios da minha vida, propulsionado não por combustível de foguete, mas por determinação, perseverança e glória; e pelo poder da energia mais doce de todas; a maravilha com fragrância de céu: o amor.



Crescendo Como Uma Iraniana

Eu sou Anousheh Raissyan Ansari, uma cidadã dos Estados Unidos da América e do grande estado do Texas. Raissyan é o sobrenome do meu pai e Ansari do meu marido. Anousheh significa “Eterno”, em persa. Eu gosto de pensar que o meu nome reflete as esperanças e os sonhos de meus pais para o meu futuro.

Minhas raízes iranianas retrocedem além do que alguém possa lembrar. Nasci em 1966, no Irã, na cidade sagrada de Mashhad, uma metrópole de parques e mesquitas, localizada no vale do rio Nashaf. Embora eu tenha as minhas memórias, não sei como Mashhad se parece agora, ou como sua população está hoje. Quando olhei do espaço para essa cidade antiga, Mashhad parecia quieta e tranquila, e espero que ela realmente esteja desse jeito. Eu geralmente penso sobre suas pessoas, do mesmo modo que penso sobre os meus pais e a felicidade que vivenciaram, quando moravam lá. Antigamente, Mashhad era o lar dos grandes matemáticos, astrônomos e cientistas. Talvez eu tenha uma atração tão grande pelo Cosmos porque nasci nessa cidade de ciência.

Minha mãe se chama Fakhri Shahidi, a terceira filha entre seis irmãos e irmãs. A família Shahidi é conhecida por ter uma longa linhagem de homens religiosos. Para ajudar a alimentar os pobres, os Shahidis organizam, várias vezes por ano, uma elaborada cerimônia de oração denominada sofreh (que, literalmente, significa pano de mesa). O dia inteiro, o aroma delicioso de comida sendo cozinhada emana das grandes panelas de cobre, avisando a todos que um banquete está sendo preparado. Às vezes, milhares de pessoas participavam dessa cerimônia, onde a comida era posta no chão, sobre lençóis brancos, nos muitos quartos da antiga casa Shahidi.

Eu tinha apenas quatro anos quando participei da minha primeira sofreh Shahidi. Quando cheguei, a minha avó, uma mulher sólida e de baixa estatura, com pernas finas que podiam ser vistas por baixo de seu chador branco, levou-me pela mão para me mostrar algo que ela pensou que eu iria gostar.

— Olhe ali, Anousheh — ela disse.

Acompanhei, com olhos grandes e curiosos, o dedo dela, que apontava para tapeçarias que estavam penduradas, como bandeiras gigantes. Elas tinham cenas de batalhas e mensagens que eu não conseguia ler ainda.

— Estas são as palavras do nosso livro sagrado, o Alcorão — minha avó explicou. — Aqueles homens eram cavalheiros, os descendentes do nosso profeta Maomé. Eles sacrificaram as suas vidas por nós, nas batalhas antigas do profeta Maomé.

Até mesmo naquele tempo, eu tinha a reputação de fazer muitas perguntas, mas antes de conseguir pensar numa, distraí-me com alguns biscoitos que estavam sobre uma bandeja. Tentei pegar um deles, mas minha avó agarrou minha mão e disse: “Não, Anousheh. Não é certo comer do sofreh antes que as orações sejam feitas. Mesmo que ninguém a veja, Deus saberá.” Ela me despachou, dizendo: “Eu acredito que sua mãe a esteja procurando.”

Corri a toda velocidade daquele quarto e gritei por minha mãe, encontrando-a no quintal com algumas outras mulheres. Fui até ela, pendurei-me na sua mão e disse que estava com fome. Quando criança, todos os meus parentes sabiam que, quando eu cismava com alguma coisa, era quase impossível me distrair. Minha mãe então parou de conversar com as outras mulheres e me levou para um dos sofrehs. Ela me disse para sentar-me a seu lado.

— Não se mexa — ela disse. — Nós estaremos comendo, em breve. Você me escutou, Anousheh?

Eu a escutei, e apesar de ter grande dificuldade em fazer isso, forcei-me a sentar quietamente. Após alguns minutos, fiquei entediada e comecei a brincar com o chador da minha mãe, segurando uma de suas extremidades e puxando-a sobre minha cabeça, para fingir que eu era uma grande exploradora, numa caverna. Ela removeu o chador da minha cabeça e disse que eu me comportasse como uma dama. Não era a primeira vez que eu escutava essa repreensão. Pelo que eu pude perceber, qualquer atividade divertida, como correr ou subir em árvores, não era uma atividade para as damas. Coisas chatas, como brincar com bonecas ou brinquedos de cozinha, era tudo o que uma dama podia fazer. Eu continuo a me dizer que, se tivesse sido um garoto, a vida teria sido muito mais divertida.

Durante o resto do dia, fiz várias perguntas a minha mãe sobre o sofreh. O que eu queria saber, mais do que tudo, era por que os meus avós estavam alimentando todas aquelas pessoas. Minha mãe me explicou que as pessoas que são abençoadas com abundância têm o dever a ajudar os menos afortunados. Como bons muçulmanos, os meus avós tinham o dever de compartilhar as suas bênçãos com as pessoas necessitadas. Eu gostei da resposta e estava orgulhosa dos meus avós. Também nunca me esqueci de seu exemplo. Tudo que eu tenho, trabalhei muito para conseguir, mas ainda assim reconheço que preciso retribuir de todas as maneiras possíveis.

Naquela noite, eu ansiosamente esperava o próximo dia, porque sabia que, no outro dia, haveria mais perguntas para fazer a minha mãe exausta. Como os pássaros voam, mãe? Por que nós não temos asas? Por que as estrelas brilham? Por que os meus olhos são marrons e o meu cabelo preto? Por que as árvores morrem no inverno? Por que a neve é branca? Por que você está me olhando desse jeito? Eu ficava feliz quando conseguia pensar numa pergunta, e mais feliz ainda quando minha mãe a respondia. Agora, se isso fazia minha mãe feliz, é outra estória.

Meu pai, que eu chamo de Papa, chama-se Houshang Raissyan. Ele é o mais velho de três irmãos de uma família que sente orgulho de serem mercadores prósperos. Quando jovem, Papa era bonito, forte e sólido, tendo um queixo quadrado e olhos penetrantes. Minha mãe era pequena, tinha cabelos negros e ondulados e olhos escuros e doces. As pessoas os chamavam de Romeu e Julieta de Mashhad. Mas, da mesma maneira que problemas encontraram Romeu e Julieta, problemas também encontraram os meus pais. Problemas tão terríveis que acabariam devastando a nossa família.

Antes que os problemas viessem a nós, e bem antes de eu nascer, o meu avô Rassyan — eu o chamava de Buhbuh — era o filho de um homem muito rico. Como convinha a sua classe, o meu belo e alto futuro avô sempre vestia as últimas modas ocidentais. A minha avó, a quem eu chamava de Maman, contou-me estórias de como ele entrava no bazar carregando uma bengala maravilhosa, que tinha uma pequena luz na sua ponta. A luz acendia e apagava toda vez que ele batia a bengala no chão. Minha avó tinha apenas quinze anos quando se casou com o meu avô, por meio de um casamento arranjado. Maman era uma jovem inocente, que não tinha ideia do que significava casamento. Quando ela se mudou para sua nova casa, como uma mulher casada, ela carregava consigo um baú cheio de bonecas para brincar.

Mas logo o pai de Buhbuh insultou o rei do Irã, ou Xá, como era chamado, e a sua família perdeu tudo. Para conseguir fazer face às despesas, Buhbuh tornou-se um veterinário do governo e teve que viajar a vilas remotas, para vacinar gado e educar os seus moradores a respeito de técnicas de pecuária moderna. Encontrando-se, de repente, casada com um funcionário público pobre e com um bebê a caminho, Maman tornou-se, rapidamente, uma adulta. Embora eu os amasse muito, confesso que adorava Buhbuh. Ele inventava charadas e ficava encantado quando eu as resolvia rapidamente.

— Você é uma garota inteligente, Anousheh, — ele me dizia. Eu queria ser ainda mais inteligente, só para ele.

Durante os primeiros quatro anos de minha vida, meus pais e eu morávamos numa casa pequena e confortável, em Mashhad, com um jardim lindo e uma varanda grande, com uma parede de ladrilhos coloridos que formavam a imagem de um porco. Eu era muito feliz e todos gostavam muito de mim. Talvez até fosse um pouco mimada. E como eu era uma criança contente, nunca poderia imaginar qualquer um dos terríveis problemas que vinham em nossa direção.



À noite, quando eu olhava para baixo, do espaço, eu via tempestades enormes. Eu sabia que não eram agradáveis para aqueles que as enfrentavam, no chão, mas, a centenas de quilômetros acima, as tempestades eram um espetáculo de luz glorioso e magnífico. Uma noite, enquanto eu ouvia Johann Pachelbel, no meu iPod, parecia como se alguém estivesse orquestrando os raios, em perfeita coordenação com a música majestosa. No começo eu estava encantada, mas depois percebi que estava assistindo ao tumulto de uma plataforma pacífica bem alta, assim como Deus deve prestar atenção à nossa labuta, na Terra. Muitas vezes, quando criança, eu invejava essa visão que Deus tinha, e desejava essa capacidade de planar sobre os problemas que atingiam minha família, como relâmpagos e trovões.



Depois que meu pai completou o serviço militar obrigatório, voltou a Mashhad e começou a trabalhar numa gráfica. O trabalho não era muito interessante para ele; então, um dia, chegou em casa e surpreendeu minha mãe com a notícia de que estávamos indo para Teerã, a capital do Irã. Seu plano era continuar a estudar, para que pudesse conseguir um emprego melhor e construir um futuro melhor. Embora minha mãe estivesse com medo dessa mudança radical, o seu amor por Papa era tão grande que ela concordou com o plano, sem muita discussão. Dentro de algumas semanas, Papa viajou a Teerã. Logo em seguida, mamãe e eu fizemos as malas e fomos atrás dele. Embora eu não estivesse muito certa de por que estávamos mudando, logo ficou claro que a vida que eu tinha conhecido, em Mashhad, tinha acabado.

Para entender nossa transformação, quando nos mudamos para Teerã, é necessário entender o clima político do Irã, em 1970. Na época, o país era governado pelo Xá Mohammad Reza Pahlevi, o filho do homem que destruiu o meu bisavô. Muitas pessoas na política iraniana consideram o Xá um fantoche das potências ocidentais, particularmente os Estados Unidos e a Grã-Bretanha. Outros iranianos o viam como um governante firme, que manteve o país estável e próspero.

O Xá era um homem cosmopolita e reformista. Ele apoiou o que veio a ser conhecido como a Revolução Branca, que estendeu os direitos de voto às mulheres e deu representação parlamentar aos agricultores e trabalhadores. Também fez campanha contra o analfabetismo e determinou que as instituições de ensino secular tivessem uma prioridade maior do que as escolas religiosas. Embora essas reformas fossem populares com a maioria dos iranianos, a decisão do Xá de aumentar o financiamento da educação secular enfureceu muitos líderes religiosos iranianos. Outros grupos odiavam o Xá por suas próprias razões. O Xá temia tanto esses inimigos, que controlava o país com mão de ferro. Isso, é claro, o fez ganhar ainda mais inimigos. Como a maioria dos iranianos, os meus pais e avós eram apolíticos e só queriam ser deixados em paz, para trabalhar duro e aproveitar a vida.



Nós nos mudamos para um pequeno apartamento em Teerã, e meu pai matriculou-se na universidade, fazendo bicos quando tinha tempo livre. No início, eu sentia saudade de Mashhad, mas, eventualmente, eu aprendi a amar Teerã, devido a toda a sua agitação. Então, para minha alegria, Buhbuh e Maman vieram morar conosco, porquanto sentiram muito nossa falta. Buhbuh, rapidamente, encontrou um bom emprego como contador, em uma loja de equipamentos agrícolas da Caterpillar, que pertencia a um de seus velhos amigos. Por um tempo, parecia que tínhamos trocado a felicidade de viver em Mashhad por uma nova felicidade, em Teerã.

Nós também tínhamos uma empregada que havia ajudado a criar meu pai e meus tios. Ela vivia conosco em nosso pequeno apartamento. Era muda, então tivemos que desenvolver nossa própria língua de sinais para "falar" com ela. Embora a empregada, um membro da tribo Turkman, gostasse muito de mim, não se dava bem com minha avó. Há um provérbio persa: quando há dois cozinheiros, a sopa é salgada ou insossa. Agora que minha mãe tinha acrescentado uma terceira cozinheira, havia discussões entre elas todos os dias.

Eu tinha cinco anos quando minha irmã Atousa nasceu. Embora eu a amasse muito, meu amor não foi suficiente para protegê-la da infelicidade que estava prestes a engolir minha família, como um rio escuro e turbulento. Logo após o nascimento de Atousa, meu pai chegou em casa e declarou: "Eu estou indo para a América." O tom, na sua voz, deixava claro que ele não queria um debate, mas isso é impossível, em uma família iraniana. Depois de meus avós questionarem-no, persistentemente, Papa disse que a ideia tinha vindo do irmão da minha mãe que, recentemente, tinha emigrado para os EUA.

— É a terra das oportunidades, — meu pai disse, citando o seu cunhado — e qualquer um pode ficar rico lá. Minha mãe concordou, com relutância, e depois de um tempo, meus avós concordaram também. Para ajudá-lo a comprar artesanato iraniano e tapetes para vender na América, vendemos tudo o que não era uma necessidade absoluta. Papa encheu suas bolsas com a mercadoria e prometeu levar-nos quando tivesse se estabilizado.

Papa havia viajado há quase um ano e, durante esse tempo, ouvimos pouco dele. Suas cartas mencionavam apenas que ele havia vendido sua mercadoria com êxito e estava tentando descobrir o que fazer. Quando retornou, para uma breve visita, ele e mamãe discutiram constantemente. Mamãe estava claramente infeliz quando ele voltou aos Estados Unidos o que, por sua vez, fez-me miserável. Atousa ainda era um bebê e eu gostava de brincar com ela e abraçá-la, como se ela fosse uma boneca frágil de porcelana. Eu sorria para ela, mesmo que eu estivesse triste.

Na vez seguinte em que meu pai voltou, ele ficou num hotel. Logo, minha mãe me deu a notícia. Seus olhos vermelhos, de tanto chorar. — Seu pai quer o divórcio. Eu me senti como se todo o meu mundo estivesse desmoronando. Meu coração batia forte e era difícil respirar. Vendo o meu sofrimento, minha mãe me envolveu em seus braços. — Você é uma menina grande, Anousheh, — ela me disse. — Agora você tem que ser muito corajosa e ajudar a sua irmã.

Mesmo com Papa longe de casa, nosso apartamento de dois quartos continuava apertado, visto que o meu jovem tio Shahram havia-se mudado para o nosso apartamento, depois de terminar a faculdade. Durante o verão, eu ficava feliz quando meus avós me deixavam dormir em sua varanda, onde laranjeiras, jasmins e limoeiros cresciam, em grandes vasos. Era um lugar perfumado e agradável para se fugir da cidade ruidosa e, também, um lugar ideal para se obter um pouco de privacidade. Buhbuh montou uma rede em volta da minha cama portátil, para me proteger dos mosquitos, mas eu sempre a removia, porque queria ver as estrelas. Quando elas saíam, cintilando, acima do pico coberto de neve do monte Damavand, eu ficava na minha cama e deixava a minha mente vagar, fingindo que estava no espaço. O céu da noite não era apenas um parquinho para a minha mente, era também um refúgio onde eu podia me esconder entre as estrelas, longe de toda a tristeza da minha vida.

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