Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Breve história política de Zezé Barbosa - como homenagem

José Carlos Vieira Barbosa debutou como candidato pelo PTB, que tinha em nível municipal dois nomes de grande expressão: Heli Ribeiro Gomes e José Alves de Azevedo. Sua candidatura foi lançada por Heli, com alguns senões de José Alves, que era o prefeito (1958/1962). A justificativa de José Alves era que, embora muito forte, o PTB, Zezé Barbosa era novato e não faria frente aos nomes dos ex-prefeitos Ferreira Paes (1947/1950) e Barcelos Martins (1954/1958).

De fato, a eleição foi decidida numa urna de Mussurepe. Barcelos Martins obteve 23 votos a mais que Ferreira Paes, alcançando 21.134 sufrágios, contra 21.111 de seu principal concorrente. Zezé Barbosa, no entanto, obteve uma expressiva votação: 18.688 votos e o quarto colocado, Rufino Filho, 1.772. Registre-se que, naquela época, o vice era eleito e Rockfeller de Lima, do PTB, que era vereador, ganhou com 13.871 votos, contra seu principal oponente Dermeval Crespo, que teve 12.519 votos.

Em 1966, após o golpe de 1964 e as cassações que se sucederam, além do receio de muitas lideranças populares devido as ameaças de perseguição, prisão etc., (Barcelos Martins, pressionado pelos golpistas, morre em abril de 1964 e Rockffeler torna-se prefeito) a legislação golpista acabou com os partidos e permitiu duas legendas apenas - Arena (Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro).

José Alves ingressou no MDB e Zezé Barbosa, na Arena, assim como Ferreira Paes. José Alves obtém 28.087 votos contra 26.346 votos de Zezé, o segundo colocado. Todavia, a ditadura, temendo um fracasso eleitoral da Arena em todo o país, aprovou a sublegenda, pela qual os partidos podiam lançar até três candidatos à Prefeitura. Dessa maneira, José Alves ganhou mas não levou, porque somados, os votos da Arena eram maioria, já que Ferreira Paes obteve 13.546 votos e Wilson Sá, 2.062. Proclamado prefeito, Zezé obteve o primeiro de seus três mandatos como prefeito de Campos.

O verão de 1966 foi um dos piores para Guarus. O Paraíba castigou as partes baixas da cidade e, por falta de contenção na margem esquerda, muito mais baixa, a água invadiu toda a área até a Lagoa do Vigário. Zezé conseguiu apoio para a reconstrução do trecho alagado e o cais foi feito, protegendo os moradores da beira-rio. Não havendo reeleição, em 1970 o eleito foi Rockfeller, mas o mandato era "tampão", de apenas dois anos. Mais uma da ditadura.

Em 1972, dessa vez com apoio do então deputado Alair Ferreira (ex-desafeto, pois Alair era do PSD e, após, o golpe, conseguiu eleger-se deputado, tonando-se uma das lideranças da Arena no Estado, cuja capital era Niterói, até a fusão, em 1975), Zezé Barbosa é eleito com 48.369 votos, contra Heli Ribeiro Gomes, o outro candidato da Arena, que obteve 25.994 votos. O MDB, contou com Walter Silva, obteve 26.193 votos, Hélio de Azevedo Gomes, o Lelé, 5.277 votos e Manoel Luis Martins, 571 votos. 

Em 1982 Zezé voltaria a governar Campos, dessa vez para um mandato de 06 anos. Naquela oportunidade, após a reabertura política e a volta de muitos cassados pela ditadura, entre os quais Leonel Brizola, o mais notório deles, havia cinco partidos, podendo cada um lançar até três candidatos. Raul Linhares, que se elegera prefeito em 1976, renunciou para concorrer ao Senado e assumiu o vice, o médico Wilson Paes, que apoiou a candidatura de Zezé Barbosa, então no PMDB, contra o principal oponente, agora no PDS, Rockffeler de Lima. Zezé obteve 60.942 votos contra 41.647 de Rock.

Nessa eleição, foram muitos os candidatos: o PDT lançou o médico César Ronald, que ficou em terceiro com 10.054, Jorge Renato Pereira Pinto, com 8.536, Nilo Siqueira, com 8.037, José Maria Monteiro de Barros, com 4.467 votos, Ângela ´peixoto do Carmo, com 3.632 votos, Sidney Pascoutto (PT), com 2.594 votos, Ramiro Alves Pessanha, com 2.282 votos e Jordão Braga, que obteve 1.079 votos.

Em 1988, Zezé Barbosa apoiou Jorge Renato Pereira Pinto. Mas o pleito foi vencido por Anthony Garotinho, que obteve 62.953 votos contra 51.408 votos de Rock e 22.008 de Jorge Renato. Foram candidatos ainda Amaro Gimenes (18.105), Barbosa Lemos (16.311), Luis Antônio (PT)  (1.214), Leonildo Martins (998) e Carlos Alberto Redondo (829). 

Atribui-se a Zezé a metáfora: "vamos ver se ele é uma chuva forte, de verão ou se é uma chuva fina. Se for forte, aguardo debaixo da marquise, porque passa rápido. Se for fina, vou para casa, porque vai demorar", numa referência à adminuistração Garotinho, que era uma incógnita justamente por ser ele, na época, um "novato" e "inexperiente".

Mais tarde, Zezé ainda tenta uma cadeira na Assembléia Legislativa, mas não conseguiu se eleger. E em todos os pleitos municipais até recentemente, foi lembrado como uma liderança que poderia compor uma chapa. Fui seu adversário ferrenho e, passadas as eleições de 1982, ele chamou o presidente do meu partido, o PDT, João de Souza e pediu que João converssasse comigo, porque a eleição já havia passado e eu continuava em campanha contra ele. Na sua opinião, não fazia sentido. Todavia, eu e Garotinho e mais alguns amigos, estávamos nas ruas desgastando sua imagem para que no futuro (1988) tivéssemos alguma chance.

Após deixar o governo, Zezé, com aquele seu jeito bonachão, brincalhão, angariava simpatia dos seus adversários e tornei-me seu amigo. Conversamos muito em várias ocasiões. Ríamos dos nossos erros e sempre o respeitei como liderança política. Aliás, em política nunca fiz inimigos. Sou amigo de sua filha, figura maravilhosa, a Beatriz, e me relaciono muito bem, respeitosamente, com Sérgio Diniz, seu genro.

Zezé está inserido na história de Campos e raramente seu feito será repetido, o de ter sido prefeito por três vezes, tendo cumprido seus mandatos até o fim, num tempo em que não havia reeleição. O "jingle" de sua campanha de 1972, composto pelo homônimo Zezé Barbosa, radialista, até hoje é lembrado: "Quando o povo quer, não adianta ninguém segura, Zezé Barbosa e Lourival Beda na Prefeitura". Repetiu em 1982, quando  teve como vice Valdebrando Silva.

A Prefeita Rosinha Garotinho decretou luto oficial de três dias pelo falecimento do ex-prefeito de Campos, José Carlos Vieira Barbosa, 81 anos. "Zezé Barbosa foi um político que, no seu tempo, principalmente até 1982, exerceu uma liderança incontestável no município de Campos. As pessoas podem até discordar das suas propostas, mas que ele tinha um carisma muito grande com a população, isso é inegável. E, certamente, a sua perda deixará um vazio para as pessoas que o seguiram por tanto tempo" - disse a Prefeita Rosinha Garotinho. Zezé, falecido ontem, foi velado na Câmara Municipal e sepultado no cemitério do Caju na manhã de hoje.

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