Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Desembargador diz que Cabral agiu certo ao prender os bombeiros

Já disse e repito o que todo mundo que pensa um pouco já sabe, obviamente: a verdade absoluta, "verdadeira", não existe. Existem versões e a verdade está amalgamada à cultura, quando não apenas ao desejo de pessoas ou grupos. E não me refiro às conveniências, mas sim à crença de alguém ou de grupos em alguma coisa como sendo verdadeira.

Época de comemoração da Paixão de Cristo ou do Natal; o editor do jornal determina: "faça uma matéria sobre Cristo"; o repórter pergunta: "contra ou a favor?" Ironia à parte, todos sabemos que, dependendo da ocasião, das circunstâncias, das conveniências, das crenças e ideologias, heróis viram bandidos e bandidos viram heróis. Uma religião pode ser satanizada ou endeusada.

Bem, tudo isso apenas para dizer que o jornal O Dia decidiu ouvir um desembargador aposentado, o Walter Maierovitch, que elogia a ação do governador Sérgio Cabral no caso da greve dos bombeiros e policiais militares e civis. Segundo ele, tudo que Cabral fez, usando as práticas da ditadura, foi correto. E se os policiais querem reivindicar, "que usem as redes sociais, a internet", sugeriu ele.

Esqueceu-se, o nobre desembargador aposentado, que recebe uma grana preta do nosso bolso, que muitos militares foram e continuam sendo presos por usar as redes sociais para mostrarem indignação com os baixos salários e péssimas condições de trabalho. Mas o caso aqui é mais grave, pois ele declara que, mesmo a prisão em Bangu I foi uma decisão acertada do governador. 

Tamanho absurdo deveria ser motivo de análises e artigos daqueles que apregoam o Estado de Direito e que têm espaço na mídia estadual e nacional. Se os bombeiros e demais militares tivessem coragem (coisa para poucos, infelizmente) manteriam a greve. Ou faria oque sempre fiz na minha vida: estão insatisfeitos Deixem seus empregos. Todos, ao mesmo tempo.

Mas aqui lembro a música de Belchior, aquela que diz: "de carrão, chego mais rápido à revolução". Ou seja, "vou à luta, sim, mas não quero perder o que tenho". E o medo de perder é que causa os recuos. Então, as mudanças só ocorrerão quando as elites e os que detêm o poder desejarem.  

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