Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







quinta-feira, 2 de abril de 2015

A crise abate em cheio economias de Macaé e Cabo Frio

Macaé: de 'Capital Nacional do Petróleo' a reduto dos desempregados no Rio

'Crise do petróleo: Eldorado do Rio se transforma em terra do desemprego' conta rumo do município

Jornal do BrasilCláudia Freitas
De uma pacata vila de pescadores no interior do Rio de Janeiro à 'Capital Nacional do Petróleo'. O título resume a trajetória ascendente do município de Macaé, no Norte Fluminense. A chegada da Petrobras, na década de 70, mudou os rumos da economia regional, atraindo para a cidade trabalhadores de todas as partes do Brasil, de olho nas atividades petrolíferas e implementação do pré-sal. Mas o sonho do 'Eldorado do petróleo' foi sacudido pelo pesadelo da crise desencadeada com os ataques à Petrobras, que envolvem a operação Lava Jato e a queda do preço do barril no mercado internacional. Na segunda reportagem da série  Crise do petróleo: Eldorado do Rio se transforma em terra do desemprego, conheça o drama do município.
O município de Macaé, com uma população estimada em 2014 de 229.624 habitantes, tem a sua força econômica atrelada às atividades da Petrobras. Com o recuo no repasse dos royalties do petróleo, como consequência da queda do preço do barril no mercado globalizado, a cidade vive agora uma onda de depressão e desânimo. As placas de ofertas de imóveis espalhadas por todo o perímetro urbano dão uma pequena noção da dimensão da recessão financeira. Com a saída diária dos trabalhadores que estão retornando aos seus estados de origem, Macaé perdeu o seu cenário de ruas "fervilhantes" de pessoas uniformizadas e empolgadas com as suas funções nas empresas offshore terceirizadas pela estatal.   
"As pessoas acreditam que as nossas cidades são eldorados, que vão encontrar, de imediato, emprego, escola, saúde", salienta Alcebíades Sabino, prefeito de Rio das Ostras, cidade que fica a 27 quilômetros de Macaé e também dependente dos royalties. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rio das Ostras é o segundo município do país em crescimento populacional. "Se crescermos poucos moradores em um ano, crescemos 10 mil novos habitantes", compara Sabino. O chefe do executivo atribui esse aumento às atividades do petróleo na região e salienta que a cidade precisou ser preparada para receber esta nova demanda. "É um município muito novo, são 22 anos, mas se transformou em uma cidade atraente", destaca Sabino. 
O colapso financeiro em Macaé começou pela rede hoteleira, a segunda maior no estado. O gerente administrativo Valdecir Santos, que mora na cidade há mais de 30 anos, era funcionário do Hotel Panorama até o final do ano passado, quando a crise do petróleo bateu às portas de Macaé. Ele conta que em todos estes anos de crescimento da Petrobras o hotel mantinha lotação esgotada, por conta da grande quantidade de funcionários das companhias terceirizadas que ficaram hospedados nas proximidades da estatal. Em uma contabilidade rápida, Valdecir estima que 60% dos clientes do hotel já deixaram a cidade com uma carta de demissão embaixo do braço. A queda no volume de hóspedes resultou na demissão de Valdecir, que hoje faz trabalhos temporários para pagar as contas. 
"Toda semana a gente escuta dizer que a empresa tal mandou tantos embora. A outra terceirizada já está programando para no final do mês mandar mais 10, 15 embora. É esta crise que estamos vivendo", conta Valdecir. No efeito dominó da estagnação, o polo gastronômico erguido na Praia dos Cavaleiros, uma das mais bonitas e conhecidas da região, não teve outro destino e está, atualmente, em ritmo acelerado de desaquecimento. Há alguns meses, era difícil encontrar uma vaga para estacionar em frente dos inúmeros restaurantes do lugar considerado "point" dos funcionários do petróleo. 
"É uma cadeia, vai atingindo todo mundo. Começa no polo industrial e termina no comércio da última rua. Assim é a economia, quanto menos recebe, menos compra. É isso que gera um caos. Desabastece tudo", analisa o prefeito de Macaé, Aluizio dos Santos Junior. "A indústria do petróleo é muito extensa. Ela abrange quem fura o poço, quem cimenta o poço, quem transporta os funcionários, a funelaria. A nossa preocupação é que esse setor possa desacelerar a ponto de demitir, hoje já temos demissão, mas algo que ainda conseguimos conviver, se aprofundar será um caos", prevê.
Dados da Secretaria de Estado de Trabalho e Renda (Setrab) sobre a evolução do trabalho por setor de atividade econômica, mostram que em Macaé a maior variação entre admissão e demissão em 2014 aconteceu na indústria de extração mineral, de 4,67%, com 658 demissões no setor. No total, o município registrou 60.456 demissões incluindo oito ramos de atividades, entre elas a construção civil. Em 2015, nos dois primeiros meses, houve registro de 9.298 baixas em carteira de trabalho, contra 7.120 contratações. 
"Das 80 mil demissões que houveram no primeiro trimestre no país, oito mil foi da indústria de petróleo, quatro mil em Macaé. O município tem 150 mil empregos formais para uma população de 227 mil habitantes. Sessenta e dois por cento é da indústria de petróleo. Ou seja, 90 mil são desta indústria. Isso em emprego direto, fora a geração de outros empregos indiretos e em outros setores abastecidos", calcula Aluizio Santos. Ainda pelas análises do prefeito, da população atualmente desocupada em Macaé, uma boa parte é flutuante. "A indústria do petróleo emprega pessoas de outros estados. O impacto está em Itaperuna, pega o Brasil inteiro. Ela é globalizada', esclarece o prefeito.
Um bom exemplo das declarações do prefeito acontece todos os dias na praça principal da cidade, a Veríssimo de Mello, que recebeu recentemente o apelido de "Praça dos Desempregados". "A concentração é aqui", conta o trabalhador do setor offshore, Valnei Brandão de Araújo, se referindo ao itinerário dos desempregados em Macaé. Após andar durante o dia inteiro, de porta em porta das companhias, distribuindo os seus currículos, uma massa de funcionários demitidos no campo petrolífero se encontra na praça para trocar experiências e novas informações sobre o mercado, que ultimamente não andam nada animadoras.
as maiores consequências da crise do petróleo no interior do Rio de Janeiro pode ser a interrupção dos investimentos previstos pelas prefeituras para este ano. Com a queda no repasse dos royalties, muitos projetos já estão parando e outros entraram em ritmo lento. 
"A gente já construiu hospital, duplicou rodovia em Macaé, a gente usou muito bem esse recurso por hora [dos royalties]. Mas, daqui pra frente?", questiona o prefeito Aluizio Santos. "Então, é um cenário bem confuso", avalia ele, acrescentando que a sua gestão teve que redimensionar todos os investimentos, inclusive nas pastas de infraestrutura e educação. 
(Matéria extraída, em parte, do Jornal do Brasil)
Em Cabo Frio:
Aproximadamente quatro mil funcionários públicos de Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio, entre eles contratados e todos os comissionados, serão demitidos, conforme anunciou o prefeito da cidade, Alair Correa, em entrevista coletiva concedida na manhã desta terça-feira (31). Além das demissões, haverá aumento no valor da passagem pelo Cartão Dignidade. As passagens vão subir de R$ 0,50 para R$ 1,50 a partir deste sábado (4). O limite será de duas passagens por dia. A prefeitura estuda ainda o reajuste na cobrança do estacionamento rotativo para veículos com placas de fora, que deve passar a custar R$ 10 a diária. O pacote de mudanças foi estabelecido por conta da queda na arrecadação dos royalties.
(Site G1)


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