Foto do artista fotógrafo Vilmar Brum
Uma notícia que não provocou comentários nem reação da mídia em Campos é por demais preocupante. Trata-se da intenção do governo paulista de transpor a água do Paraíba do Sul para garantir água para a "macrometrópole nos próximos 30 anos". Nesse sentido, baixou decreto (nº 52.748) determinando que seja feito um estudo para "identificar novos mananciais" e uma das opções é a bacia do Paraíba do Sul.
O que o governo paulista denomina de macrometrópole compreende a região metropolitana de São Paulo, a Baixada Santista e Campinas. Até o fim deste ano o estudo encomendado deve estar concluído. Caso isso se configure, a tendência é perdermos (Itaocara, Cambuci, São Fidélis, Campos e São João da Barra) parte ponderável de nosso principal manancial. Obviamente que estamos nos referindo à nossa região, mas muitos outros municípios do Estado do Rio e de Minas Gerais também sofrerão com a perda de sua principal bacia hidrográfica.
Lembremos que o Paraíba do Sul perdeu cerca de 40% de suas águas que ficam na Guanabara, via o antigo riacho de Guandu, que, com as obras de transposição no final da década de 1960, passou a um rio de cerca de 80 metros de largura. Toda água que abastece a Guanabara é do Paraíba que, com essa transposição, enfraqueceu e, nos meses do outono e inverno, não é mais navegável como antes. Os mais velhos lembram-se dos barcos que trafegavam entre São João da Barra e São Fidélis. A partir de então, não mais.
Segundo a secretária executiva do Comitê de Bacias e diretora do DAAE, Marli Aparecida Maciel Leite, “esse estudo vai avaliar as bacias num raio de 200 quilômetros e as possibilidades de abastecimento da macro-metrópole”. Ela explica que em função da distância com a capital, a bacia do Paraíba está sendo estudada e avaliada junto com outras regiões do estado de São Paulo. São elas: Alto Tietê, o conjunto Piracicaba, Capivari e Jundiaí, Baixada Santista, Sorocaba e Médio Tietê.
Os ambientalistas da região estão preocupados. Marcus Fernandes da Costa, da Ong Ecosolidario, revela que o uso racional da água e a questão do desenvolvimento regional do Vale do Paraíba são questões relevantes. O motivo, segundo ele, é que o consumo e a transposição dessa água para a metrópole podem retardar o crescimento dos municípios tanto no aspecto econômico quanto no desenvolvimento rural.
Ou seja, corre-se o sério risco de muitos municípios ficarem sem água para o abastecimento da população. Em maio, na Assembléia Legislativa do Rio, o assunto foi debatido em audiência pública. Mas não se ouviu falar do tema de lá para cá.
Os governantes dos municípios abastecidos pelo Paraíba do Sul devem se mobilizar para evitar uma catástrofe no futuro. Sim, porque sem água e com a perspectiva de crescimento demográfico (há a possibilidade de Campos passar dos atuais 470 mil para 1 milhão habitantes, em menos de 10 anos), estaremos numa situação inimaginável. Campos ainda conta com outros mananciais (os rios do Imbé, cujas águas formam a Lagoa de Cima), porém, além do alto custo para o abastecimento, ninguém garante que teríamos água suficiente o ano inteiro. Mas, e os outros municípios que dependem exclusivamente do Paraíba?
Estou pondo a questão para o debate por parte dos interessados e dos especialistas que, até mesmo, podem considerar que estou sendo alarmista e que a transposição das águas do Paraíba não seria algo tão grave assim.
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