Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







quarta-feira, 7 de setembro de 2011

7 de setembro de 1961 - Jango toma posse num Brasil parlamentarista

João Belchior Marques Goulart

Em 2007 escrevi, para O Diário, o artigo abaixo que, por considerá-lo pertinente, até porque se comemora os 50 anos da resistência de Leonel Brizola ao golpe que ocorreria naquele ano, resolvi publicá-lo neste espaço:

Quando se comemora o Sete de Setembro, um fato importante na nossa história recente nos vem à mente, embora saibamos que, se o significado maior da data pouco representa para a maioria dos nossos jovens, menos ainda qualquer outro fato histórico que, se comparado à Independência, é menor. Por isso, mesmo as gerações anteriores sequer conhecem ou se sensibilizam com os acontecimentos que fincaram as bases do nosso atraso e mantiveram por mais de duas décadas, deitado em berço esplêndido, adormecido, esse gigante chamado Brasil.

Refiro-me à posse na “marra”, a 07 de setembro de 1961, do então Presidente da República João Belchior Marques Goulart, eleito vice-presidente e que assumiu o cargo com a renúncia de Jânio Quadros, no dia 25 de agosto daquele ano. Os acontecimentos entre o dia da renúncia e o dia da posse do substituto deveria ser estudado para que todas as gerações compreendessem melhor os Brasis que temos num mesmo solo.

Sim, porque a divisão das elites dominantes naqueles momentos revelaram ao mundo a fraqueza da nossa democracia, a tacanhez das nossas forças armadas e o oportunismo de nossos políticos. As exceções, que já eram poucas, tornaram-se raras no decorrer das últimas décadas.

Ao renunciar no dia 25 de agosto, com apenas seis meses no exercício da Presidência, Jânio Quadros abriu a ferida que, desde o suicídio de Vargas, em 24 de agosto de 1954, fazia sangrar o coração daqueles que amavam a Pátria. As “forças ocultas” denunciadas timidamente por Jânio, mataram Vargas, infernizaram Juscelino, forçaram a renúncia de Jânio, impediram a assunção de Goulart conforme a Constituição de 1946 e desfecharam o golpe em 1964, forçando o nosso atraso.

Em agosto de 1961 Goulart estava na China (“de Mao”), representando o Brasil em missão diplomática. Os militares não aceitavam que ele assumisse a Presidência e se prepararam para abater o avião que o conduziria de volta ao país. Entre os dias 25 de agosto e 07 de setembro, o país viveu um clima de guerra civil, com a resistência do então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola que prontamente recebeu o apoio do III Exército e, montando a Cadeia da Legalidade, envolvendo 93 emissoras de rádio em todo o país, ganhou adeptos no Brasil inteiro.

Os comandantes militares, aliados a lideranças políticas, ameaçaram bombardear o Palácio Piratini, onde se encontrava o governador. O bispo de Porto Alegre, Dom Vicente Scherer, postou-se ao lado de Leonel Brizola, que armou parte da população e mandou um aviso: ou a Constituição é respeitada ou então podem bombardear o Rio Grande. Ele e os defensores da legalidade constitucional morreriam resistindo ao golpe.

A tensão entre o Brasil do atraso, da ganância, da sede de poder, e o Brasil solidário, democrático e nacionalista, durou 13 dias. Tempo em que a terceira via, a turma do “deixa disso”, consegue, temendo a guerra civil, a aprovação de uma emenda à Constituição que instituía o Parlamentarismo.

Assim, Goulart poderia assumir a Presidência, mas o poder era do Congresso, via Primeiro Ministro. Os militares aceitaram e, sob o repúdio de Leonel Brizola e outros nacionalistas, a emenda é aprovada às pressas e Goulart retorna ao Brasil, assumindo seu posto de Chefe da Nação (o Chefe de Governo era o primeiro-ministro Tancredo Neves) no dia 07 de setembro de 1961.


Registro:

João Goulart foi deputado estadual, deputado federal, ministro do Trabalho, vice-presidente da República em 1955 (obteve mais votos que o presidente, Juscelino Kubitschek) e em 1960. Assumiu a Presidência em 1961 no Parlamentarismo. Em 1963, com a volta do Presidencialismo, reassume os poderes, mas é cassado em 1º de abril de 1964. Exilado no Uruguai, depois na Argentina, morreu em 1976, supostamente por envenenamento (Operação Condor).

Nenhum comentário: