Meu livro sobre os 360 anos da Câmara de Campos, que não pode ser lançado na data marcada, 19 de dezembro, às 19 horas, porque o local (Museu de Campos) estaria com uma intensa programação cultural, é também interessante pelo seu ineditismo. E, embora seja sobre a Câmara, coloquei os candidatos a prefeito, seus partidos e suas votações de 1947 (primeira eleição de prefeito) a 2012.
O livro será lançado em março, mas adianto alguns trechos para os leitores que se interessam pela nossa história política:
Em 1947 Campos elege Manuel Ferreira Paes (PSD), que obteve 11.745
votos contra Seraphim Saldanha (UDN), que obteve 9.998 votos e João Rodrigues
Oliveira (PSB), 6.761 votos. Ferreira Paes governa até janeiro de 1951.
Em 1950 a "chapa completa com Getúlio" que era senador e candidatou-se à Presidência da República, propiciou a eleição de José Alves de Azevedo, natural da Baixada. Ele obteve 14.631 votos,
contra 11.453 de Barcelos Martins, 8.095 de Jorge Pereira Pinto, 2.518 de Ary
Viana e 502 votos de Everaldo Martins.
Em 1954 José Alves de Azevedo lançou um nome que não
contagiou o povo. Barcelos Martins, pelo PSP, um diminuto partido que abrigava
comunistas e socialistas, venceu com folga o pleito. Ele obteve 21.304 votos,
contra 11.104 de Joadélio Codeço, apoiado por José Alves e 9.460 de Oswaldo
Cardoso de Melo.
Em 1958, José Alves é novamente eleito com
bastante folga. Fez 34.138 votos, contra 20.410 do ex-prefeito Ferreira Paes.
Neste ano, apenas dois candidatos a prefeito e dois a vice-prefeito, Edgardo
Machado, que obteve 27.952 votos e Manuel Gonçalves, 22.720 votos.
Em 1962, mais precisamente em junho, o prefeito José Alves de Azevedo se
afasta para tratamento de saúde (os jornais divulgaram que ele se afastou para
tentar uma vaga ao Senado) e assume em seu lugar o vice, Edgardo Nunes Machado.
Foram quatro candidatos a prefeito e oito candidatos a vice naquele ano. João Barcelos
Martins retorna à Prefeitura vencendo Manoel Ferreira Paes por 23 votos, após a
mais renhida disputa eleitoral já registrada no município. Ele obteve 21.134
votos, Ferreira Paes, 21.111, Zezé Barbosa, 18.688 e Rufino Filho, 1.772 votos.
Rockffeler de Lima, que era vereador, foi eleito vice-prefeito com 13.871
votos.
O golpe militar de 1964 mudou radicalmente os destinos políticos do país. Em 1965, os partidos são extintos e apenas dois foram permitidos (Arena e MDB). Em 1966, o Congresso colocou em votação a emenda constitucional que permitia a cada
partido lançar três candidatos. O vencedor seria o mais votado no somatório das
legendas.
Em 1966 o MDB lançou apenas José Alves de Azevedo, que concorria pela
terceira vez. E a Arena lançou José Carlos Vieira Barbosa, que ficara na
terceira colocação na eleição anterior, Ferreira Paes e Wilson Passos de Sá.
Nessa eleição Zezé Barbosa foi muito favorecido pela máquina municipal comandada
por Carlos Ferreira Peçanha, que assumiu o executivo com a saída de Rockfeller para ser candidato a deputado federal. Mesmo assim, José Alves venceu o pleito, obtendo
28.087 votos, contra 26.346 votos de Zezé Barbosa. O resultado chegou a ser
comemorado, mas a criação da sublegenda foi regulamentada permitindo aos
partidos somarem os votos dos seus candidatos. Ferreira Paes obteve 13.546
votos e Wilson Passos, 2.062 votos. Somados aos de Zezé Barbosa, deu a vitória
à Arena. José Alves nunca se recuperou do golpe. Zezé, por obra da ditadura,
elegera-se prefeito e se tornaria uma respeitável liderança política local
durante os “anos de chumbo".
Em 1970, outro casuísmo. A ditadura, que já
havia cassado grande parte dos parlamentares contrários ao regime (em Campos
havia sido cassados o deputado Adão Pereira Nunes, em 1964, a pressão sobre
Barcelos Martins provocou a sua morte 10 dias depois do golpe (11 de abril de
1964), o vereador Jacyr Barbeto, também em 1964, os deputados federais Antonio Carlos Pereira
Pinto e Sadi Coube Bogado, em 1968), acabou com a eleição de governadores e prefeitos
das capitais e estâncias hidrominerais, decidiu promover um mandato “tampão”,
de apenas dois anos, para evitar a coincidência das eleições municipais com as
estaduais e nacionais. Dessa maneira, os mandatos de prefeitos e vereadores
eleitos em 1970 findariam em 31 de janeiro de 1972.
A Arena lançou os nomes de
Rockfeller de Lima e Lourival Martins Beda. E o MDB, desta feita, também lançou
mais de um candidato: Amaro Gomes da Silva, o Amaro “Refrega” e o vereador José
Carlos Maciel. Resultado: Rockfeller de Lima, 28.596 votos, Lourival Beda,
17.226 votos, Amaro “Refrega”, 20.770 votos e José Carlos Maciel, 15.510 votos.
A Arena obteve 45.822 votos e o MDB, 36.280. Rockfeller era o prefeito eleito.
Em 1972 o pleito caracterizou-se como “a eleição da Arena contra Arena”. Nas ruas, bares, praças
só se falava na disputa de Heli Ribeiro Gomes, que aceitara ser candidato
contra seu ex-liderado, Zezé Barbosa. O MDB amargou mais uma derrota, agora com
seus três candidatos: Walter Silva, Hélio de Azevedo Gomes e Manoel Luis
Martins. Zezé, que saíra do Governo em 1970 com um grande desgaste, recebeu o
apoio de Alair Ferreira, ex-adversário e repetiu a “dobradinha” de 1966, com
Lourival Martins Beda como vice. Heli Ribeiro Gomes, ex-deputado federal que
havia perdido a eleição para o Senado, escolheu para seu vice um político com
afinidade na capital (Niterói) e não em Campos: Adilson Macabu. Resultado: Zezé
Barbosa, 48.369 votos e Heli Ribeiro Gomes, 25.994 votos. Pelo MDB: Walter
Silva, 26.193 votos, Hélio Azevedo Gomes, 5.277 votos e Manoel Luis Martins,
571 votos. Zezé governaria o município pela segunda vez.
Em 1976, novo
casuísmo da ditadura: o mandato seria de seis anos para que voltasse a
coincidência dos mandatos. Para um estranho, um observador de fora, o fato
parece revestido de comicidade. Mas quem se elegesse em 1976, teria seis anos
de mandato. Zezé Barbosa, prefeito, lançou o arquiteto Raul David Linhares
Corrêa, tendo como vice Wilson Paes, médico que gozava de imenso prestígio e
reconhecimento. O deputado Alair Ferreira apoiou a chapa Raul/Wilson. E a Arena
lançou ainda Rockfeller de Lima, que havia perdido a eleição para deputado
federal em 1974. O MDB lançou José Alves de Azevedo que decidiu retornar à política
e retomar seu antigo prestígio. Na sublegenda, o deputado em segundo mandato,
Walter Silva e Paulo Albernaz. Mais uma vez o MDB lançava três candidatos e a
Arena, apenas dois. Resultado do pleito de 15 de novembro de 1976: Raul
Linhares, 36.928 votos, Rockfeller de Lima, 29.940 votos (total: 66.868). José
Alves, 27.477 votos, Walter Silva, 21.477 votos e Paulo Albernaz, 8.054 votos
(total: 57.518). Raul Linhares era o prefeito.
Em 1982 a eleição foi a única, até hoje, com 10
candidatos concorrendo ao cargo de prefeito. Zezé Barbosa, que havia ingressado
no PMDB, venceu a eleição com 60.942 votos. Rockfeller de Lima obteve 41.647
votos, César Ronald Pereira Gomes, 10.054 votos, Jorge Renato Pereira Pinto,
8.536 votos, Nilo Siqueira, 8.037 votos, José Maria Monteiro de Barros, 4.467
votos, Ângela Peixoto do Carmo, 3.632 votos, Sidney Pascoto, 2.594 votos, Ramiro
Alves Pessanha, 2.282 votos e Jordão Braga, 1.079 votos.
Em 1988 o prefeito José Carlos Vieira Barbosa (já bastante desgastado,
principalmente pela oposição cerrada do grupo liderado por Garotinho, que
ingressou no PDT em 1984 e elegeu-se deputado em 1986), indicou o engenheiro,
professor e um dos donos da Unisa Santa Maria, Jorge Renato Pereira Pinto, candidato
derrotado na eleição de 1982, para sucedê-lo. As alianças para a eleição majoritária
não ocorreram e os partidos com algum cacife eleitoral lançaram candidaturas
próprias
Além de Jorge Renato pelo PMDB, concorreram
Rockfeller de Lima (PFL), Amaro Gimenes (PL), Anthony Garotinho (PDT), Barbosa
Lemos (PTB), Luis Antonio (PT), Leonildo Marins e Carlos Alberto Redondo.
Venceu a eleição o candidato do PDT, Anthony Garotinho, com 62.953 votos,
seguindo-se Rockfeller de Lima (51.408), Jorge Renato Pereira Pinto (22.008),
Amaro Gimenes (18.105), Barbosa Lemos (16.311), Luis Antonio (1.214), Leonildo
Marins (998) e Carlos Alberto Redondo (829 votos).
Em 1992 o prefeito Anthony Garotinho convence o Diretório do PDT a lançar
o nome de seu assessor de Comunicação, Sérgio Mendes Cordeiro à sua sucessão.
Concorreram com ele Rockfeller de Lima (PTB), Adilson Sarmet Moreira (PT)
(vice-prefeito, mas rompido com Garotinho) e Barbosa Lemos (PSDB). Sério Mendes
obteve 115.455 votos; Rockfeller, 34.176 votos; Adilson Sarmet, 12.655 votos e
Barbosa Lemos, 11.780 votos.
Em 1996, já
rompido com Sérgio Mendes, Garotinho, que foi Secretário de Estado do Governo Brizola
(gestão 1991/1994) após o término de seu mandato em 1992 e que havia sido
derrotado por Marcello Alencar na disputa ao Governo do Estado, em 1994, foi o
escolhido do PDT para ser o candidato à Prefeitura. Para seu vice, sob sua
liderança, o Partido indicou o médico e vereador de primeiro mandato, Arnaldo
França Vianna. Concorreram com
Garotinho Rockfeller de Lima (PFL), José Cláudio (PMDB), Luciano D’Ângelo (PT)
e Euzi Peixoto (PPS). Garotinho obteve 134.906 votos; Rockfeller, 30.215 votos;
Luciano D’Ângelo, 11.467 votos e Euzi Peixoto pelo minúsculo PPS (constituído
pelos dissidentes do Partido Comunista Brasileiro), 1.447 votos.
Em 2000, a reeleição
do prefeito Arnaldo Vianna foi a mais tranquila até então. Apoiado pelo então governador Anthony
Garotinho, que venceu a eleição de 1998 para o Governo do Estado, Arnaldo
Vianna (PDT) obteve 140.359 votos. Paulo Feijó (PSDB) – 54.761 votos, Luiza
Botelho (PT) – 10.570 votos, Euzi Peixoto (PPS) – 3.889 votos e Sadi Bogado
(PHS) – 3.207 votos.
Em 2004, no primeiro turno, foram candidatos a prefeito Geraldo Pudim (PMDB), que
obteve 82.345 votos; Carlos Alberto Campista (PDT) apoiado por Arnaldo Vianna,
obteve 68.210 votos; Paulo Feijó (PSDB), 61.319 votos e Mackoul Moussalem (PT),
33.628 votos. O segundo turno foi disputado entre Carlos Alberto Campista, que
obteve 131.363 votos e Geraldo Pudim, que obteve 109.309 votos. A
Justiça cassou o mandato do prefeito e do vice cinco meses após a posse,
assumindo o executivo o presidente da Câmara, Alexandre Mocaiber. Outra
eleição, extemporânea, seria realizada em 2006.
Em março de
2006, por determinação da Justiça Eleitoral, foi realizada uma nova eleição só
para o cargo de prefeito. No primeiro turno, Geraldo Pudim (PMDB) obteve 99.002
votos; Alexandre Mocaiber (PDT) – 93.628 votos, Makhoul Moussalem (PT) – 23.508
votos, Paulo Feijó (PSDB) – 17.622 votos, Rockfeller de Lima (PFL), que teve a
candidatura impugnada por causa de ações impetradas pelo PMDB. E Walter Júnior
(PV), que também não teve seus votos computados devido à impugnação do seu
vice.
Como Geraldo Pudim venceu, mas não conseguiu os 50% mais 1 dos votos
válidos, o segundo turno ocorreu novamente entre os mais votados. Alexandre
Mocaiber (PDT) obteve 129.108 votos e Geraldo Pudim (PMDB), 101.527 votos.
Mocaiber continuaria no comando da Prefeitura até o pleito de 2008. Registre-se
que, por atos de corrupção, comprovadas após investigação federal, Alexandre
Mocaiber foi afastado, alguns de seus secretários e assessores foram presos,
juntamente com empresários envolvidos, e outros foram afastados de seus cargos.
Por quarenta e três dias, entre março e abril de 2008, assumiu o vice-prefeito,
Roberto Henriques. Mocaiber reassumiu, por força de liminar, e apoiou Arnaldo
Vianna na eleição daquele ano.
Em 2008, a primeira mulher a ser eleita para o cargo de governadora,
Rosinha Garotinho, também foi a primeira mulher eleita para governar Campos,
vencendo a eleição no primeiro e segundo turnos. No primeiro turno, Rosinha
Garotinho (PMDB) , obteve 118.245 votos,
Arnaldo Viana (PDT) – 108.000 votos (mas seus votos não foram computados porque ele estava inelegível por determinação da Justiça Eleitoral), Odete Rocha (PSB) – 26.952 votos, Paulo
Feijó (PSDB) – 3.686 votos, Marcelo Vivório (PRTB) – 963 votos Graciete Santana
(PCB) – 500 votos. No segundo turno, Rosinha Garotinho (PMDB), obteve 135.955
votos e Arnaldo Viana (PDT), 113.638 votos.
Neste ano de 2012, concorreram à
chefia do Executivo Rosângela Barros Assed Matheus de Oliveira, a Rosinha
Garotinho (PR), que obteve 167.615 votos; Mackoul Moussalem (PT), 61.143 votos;
Arnaldo França Vianna (PDT), como nas duas eleições anteriores (prefeito em
2008 e deputado federal em 2010) não teve os votos computados por estar
inelegível, mas ele obteve 31.436 votos; José Geraldo (PRP), 5.513 votos; e Erik
Shunk (PSOL) 5.302 votos. Rosinha governará o município por mais quatro anos.
Um comentário:
Avelino,
Guardadas as inúmeras diferenças de posicionamento politico que mantenho quanto a você, reconheço a importância deste trabalho de mapeamento.
Certamente o levantamento histórico é útil e importante para ter uma leitura geral da constelação histórica da política de Campos. Espero que estimule outras pesquisas com maior detalhamento de períodos específicos. Até pq, embora existam mudanças, devemos reconhecer que há permanências.
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