Todos os meus trabalhos de pesquisa (alguns editados em livros) são muito interessantes e importantes para os que desejam conhecer um pouco mais sobre Campos, sua história, sua cultura e sua gente.
Um deles é sobre São Sebastião, que pretendo lançar em livro muito em breve. Meu problema é falta de patrocínio, pois as pessoas em geral falam sobre coisas de Campos de ouvir falar, mas não se interessam realmente em conhecer sua história. Por isso, livros sobre a nossa história, nossa cultura, vendem quase nada, inviabilizando o investimento do autor nas edições impressas.
Para os poucos interessados, um pouco da história de São Sebastião, extraído de meu futuro livro sobre o santo, o distrito, a igreja e a festa que termina neste domingo na localidade homônima, na Baixada:
No final do século III e início do IV, perseguidos, os cristãos resistiam, reunindo-se às escondidas. O imperador Diocleciano decretou, então, que todo
aquele que rejeitasse a religião da Natureza, de Roma e dos seus antepassados
fosse submetido “às mais intoleráveis e ásperas condições”.
Os cristãos nascidos
livres foram declarados incapazes de ter quaisquer honras ou exercer quaisquer
empregos. Os escravos foram privados para sempre da esperança de
liberdade. Os cristãos foram colocados fora da lei. Os juízes foram autorizados
a determinar toda e qualquer ação solicitada contra os cristãos. Já estes não
poderiam se queixar de absolutamente nada.
Quando este edito (decreto) foi
afixado em Nicomédia, um cristão o arrancou, rasgou e discursou contra o
imperador. Foi preso e assado a fogo lento, para servir de exemplo. A história
não registrou o nome daquele mártir. A partir da rebeldia desse cristão, a
perseguição tornou-se mais feroz, cruel. E iniciou-se a Era dos Mártires, que
foi do ano de 303 ao ano 311, época em que, por qualquer motivo, cristãos eram
torturados e mortos.
Acabaram-se
as perseguições e os martírios quando Constantino assumiu parte do poder, em
312, adotando medidas de proteção aos cristãos e, em 324, já como imperador,
estabeleceu, como religião oficial, o cristianismo. Foi um golpe duro nos seus
pares e em todos aqueles que se acostumaram a humilhar e roubar os que deles
discordassem, principalmente as pessoas acusadas de ligação com a seita
cristã. No leito de morte, Constantino converteu-se ao cristianismo.
Sebastião
foi um desses mártires que preferiram morrer a negar a sua fé no Deus cristão.
Soldado e servidor do Império, em Milão, Sebastião foi nomeado, por seu valor, capitão da
primeira Corte da Guarda Pretoriana (ou seja, a Guarda do Imperador). Mas
Sebastião negou-se a cumprir determinadas ordens do imperador contra os
cristãos e, inquirido, confessou ser um cristão. Diocleciano, que nutria
admiração por ele, aconselhou-o a negar sua fé. Sebastião não o fez e foi destituído da Guarda e entregue a um pelotão para ser torturado
e morto.
Considerado traidor, Sebastião
foi espancado, amarrado num tronco e alvejado várias vezes com flechas.
Sangrando muito, foi deixado no tronco, ou porque pensassem os soldados que ele
estava morto ou para que morresse lentamente. No entanto, uma mulher, Irene,
esposa de um mártir (Cástulo), passando pelo local, decidiu retirar o corpo de
Sebastião e sepultá-lo. Surpresa, constatou que ele ainda estava vivo. Tratou
dele e, tempos depois, estava Sebastião novamente desafiando o imperador e seu
séquito.
Preso
novamente, Sebastião, por ordem do imperador, foi espancado até a morte. Alguns
religiosos dizem que ele foi morto a pauladas. O fato é que Sebastião foi
torturado até a morte, mas não negou a sua fé nem a sua religião. O ano de sua
morte, segundo a Igreja, é 303. No entanto, não há registros que confirmem esta
data, o que gera dúvidas quanto à morte de Sebastião e de outros cristãos.
A Igreja tem sua própria história e este
trabalho não pretende colocar em xeque os registros eclesiásticos. Antes,
pretende registrar a fé no sagrado, representado pela figura de São Sebastião,
preservando os fatos nos quais os cristãos acreditam. Crença tão forte que
atravessa os séculos e chega vivificada ao terceiro milênio em grande parte do
mundo.
No
livro O Santo do Dia, Dom Servílio
Conti afirma ser 303 o ano do martírio de Sebastião. O militar foi sacrificado
por não negar sua fé e proteger os cristãos e, por isso, foi santificado pela
Igreja Católica, que se tornou religião oficial pouco tempo depois, em 325,
quando foi realizado o primeiro Concílio Geral (ecumênico) do mundo cristão,
sob o império de Constantino.
No
Cânon dos Mártires ou Martirológio Romano
(local em Roma com o nome dos mártires e a história de seus martírios) consta o
nome de Sebastião, inscrito em 354, data provável de sua santificação. A imagem
conhecida e cultuada de São Sebastião (do seu corpo amarrado a um tronco de
árvore e flechado) foi imortalizada pelos pintores da Renascença.
Não
há provas, mas teria sido Santo Ambrósio que escreveu sobre Sebastião. Segundo
ele, Sebastião nasceu em Narbona, Milão, onde também estudou. Não gostaria de
ser militar, mas na tentativa de defender os cristãos, ingressou no exército,
em Roma, ainda no tempo do imperador Carino, em 283 d.C. Este imperador foi
morto por Diocleciano, que assumiu o poder.
Admirador de Sebastião por sua
coragem e bravura, Diocleciano nomeou-o centurião (do latim centurione que significa comandante de
uma centúria, uma companhia de 100 soldados
da milícia romana) de uma guarda pretoriana (do latim praetorianu, guarda dos imperadores da Roma antiga), uma grande
honra para qualquer soldado. Diocleciano foi para o Oriente e deixou em seu
lugar seu amigo Maximiano, que também
admirava Sebastião por sua lealdade e bravura.
Todavia,
as perseguições aos cristãos tornavam-se cada vez mais intensas. O papa Caio,
eleito em 283, foi perseguido em Roma e escondeu-se no Palácio Imperial, nos
aposentos de Cástulo. Mas os romanos, comandados por Maximiano, prenderam os
cristãos confessos e torturou-os até a morte. Assim ocorreu com uma mulher chamada
Zoé, que foi pendurada pelos calcanhares sobre uma fogueira e morreu sufocada
pela fumaça; Tranquilino foi apedrejado até a morte; Nicóstrato, Cláudio, Castório
e Vitorino foram presos, torturados e lançados ao mar; Tibúrcio foi decapitado;
Cástulo, traído por um amigo, acabou preso e
enterrado vivo; Marcos e Marceliano foram pregados pelos pés, de cabeça
para baixo, numa árvore; em seguida, assassinados a flechadas.
Contra
essas atrocidades lutara Sebastião, que tentava, a todo custo, proteger seus
irmãos de fé. Mas a proteção aos cristãos custou sua vida. Diocleciano, ao
saber que Sebastião ajudava os cristãos censurou-lhe e entregou-o aos arqueiros
da Mauritânia para ser executado. Dado como morto, foi, no entanto, salvo pela
viúva de Cástulo. Recuperado, em vez de fugir voltou a ocupar seu posto na
guarda pretoriana e discutiu com Diocleciano. Este, após a surpresa (pois o
considerava morto), chamou os guardas e ordenou-lhes que espancassem Sebastião
até a morte.
Seu corpo foi sepultado por uma moça chamada Lucina num lugar
denominado ad catacumbas, onde depois
foi erigida a Basílica de São Sebastião. Estes dados foram recolhidos por
Butler que escreveu o livro Vida dos Santos (Volume I, páginas 173-175). O autor, no entanto, não afirma ser
verdade os fatos narrados em minúcias. Mas não tem dúvidas de que Sebastião foi
martirizado por ordem de Diocleciano e sepultado na Via Ápia, bem próximo onde
depois foi erguida a Basílica de São Sebastião, no cemitério ad catacumbas.
No
que tange a representação de São Sebastião trespassado por flechas, Butler diz
que “tal fato se deve aos artistas da Baixa Idade Média”; e relata que um
mosaico, provavelmente do ano 680, existente em San Pietro Vincoli, mostra São
Sebastião de barba, levando em uma das mãos uma coroa de martírio. E que em um
vitral da catedral de Estrasburgo o santo aparece como um cavaleiro com espada
e escudo, mas sem flecha.
Há uma lenda segundo a qual São
Sebastião enfrentou bravamente uma nuvem de flechas, sem sofrer um arranhão;
por isso, passou a ser patrono de arqueiros e soldados. O santo também era
invocado contra doenças contagiosas e contra pragas.
Sebastião
é homenageado e festejado pelos devotos no dia 20 de janeiro. Além da própria
cidade do Rio de Janeiro, muitas igrejas e paróquias no Brasil têm São
Sebastião como padroeiro. Em Campos a primeira capela em seu louvor foi erguida
na localidade que recebeu o seu nome e consta que é a segunda mais antiga da
Baixada Campista. Lá, o santo é festejado desde 1710, sendo uma das mais
antigas manifestações religiosas do município.
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