A Cavalhada
A principal atração da Festa de
Santo Amaro é, sem dúvida, a Cavalhada, uma representação da luta entre
cristãos e mouros (povos que habitavam a Mauritânia; sarraceno; para os
cristãos, mouro era qualquer um que não tinha a fé cristã) que, com o passar
dos anos, foi sofrendo modificações, tornando-se um espetáculo de arena, um show de montaria, proporcionado por
cavaleiros de todas as idades, desde garotos até o mais antigo deles, Francisco
Manoel da Costa, que completou 77 anos
no dia 9 de janeiro de 2008, na véspera
de sua 65ª Cavalhada (em 67 anos, só faltou duas vezes: uma quando sua mãe
morreu e outra, em 2007). Os cavaleiros ensaiam e aperfeiçoam a destreza com os
animais durante todo o ano. Aprendem, com um instrutor - nos últimos anos tem
sido Joel Rita da Costa, que é filho de
Francisco e capitão da representação - todos os movimentos necessários ao belo
espetáculo. Mas mal conhecem a história de mouros e cristãos ou das cruzadas.
Representada
pela primeira vez em Campos em 07 de outubro de 1730 em homenagem a Dom Mimoso,
Ouvidor da Comarca do Rio de Janeiro que visitava o Solar do Colégio,
propriedade dos jesuítas, a Cavalhada simulava a luta entre mouros e cristãos,
com a conseqüente conversão daqueles e a confraternização final, quando os
cavaleiros, rapazes e senhores da nobreza e criadores de gado da região,
distribuíram flores e acenaram com lenços brancos para a assistência. Naquela
oportunidade, assistiram a representação alguns jesuítas, as famílias
convidadas para recepcionar o Ouvidor e os empregados, colonos e escravos das
fazendas do Campo Limpo. (LAMEGO: 42/43)
A Cavalhada é um folguedo cuja
representação foi introduzida no Brasil pelos portugueses no século XVIII e faz
parte da tradição cultural de muitos municípios brasileiros, principalmente no
Norte/Nordeste. Em Campos, é uma referência cultural muito forte e alvo de
estudos de folcloristas, historiadores e pesquisadores das nossas imensas
riquezas culturais populares. Dados existentes em livros e revistas da
Secretaria de Estado de Cultura, Biblioteca Municipal de Campos e reportagens
nos jornais do município atestam que a Cavalhada representa os soldados
cristãos do imperador Carlos Magno na conquista dos mouros de Constantinopla e
que foram batizados, após vencidos na batalha, pelo próprio Carlos. Como em Santo Amaro são 12
cavaleiros de cada lado, as pessoas se reportam às histórias e lendas de Carlos Magno e os Doze Pares de França.
Carlos era filho de Pepino que se
tornou rei, sucessor de seu pai, Carlos Martel, porque seu irmão entrou para um
convento. Pepino amedrontou o papa, forçando-o a apoiar sua coroação em
Soissons, capital da Merovíngia, em 751. Carlos Magno também, como o pai, tinha
um irmão, mas este morreu em 771 e Carlos tornou-se rei, governando os domínios
dos francos de 771 a
814. Inteligente, embora tivesse dificuldade para ler (outros liam para ele,
que se interessava muito pela Bíblia) e não se atrevia a escrever. Carlos o Grande, ou Magno, utilizou a religião cristã transformando as guerras de
conquistas em guerras de religião. Nos séculos oitavo e nono, principalmente
com Pepino e Carlos Magno, os territórios onde hoje situam-se a Inglaterra, a
França, a Alemanha, a Dinamarca, a Noruega e a Suécia tornaram-se arenas de
terríveis lutas entre “a velha e a nova fé”. Nações inteiras foram convertidas
ao cristianismo pela espada.
Pois bem, a Cavalhada conhecida no
Brasil seria a representação dessas lutas entre mouros e cristãos, com a
conseqüente vitória dos últimos. No entanto, o memorialista Waldir de Carvalho,
um estudioso da história da Baixada e que nasceu e viveu em Santo Amaro , onde sempre
manteve uma relação estreita com amigos, parentes e sua cultura (Waldir faleceu
no alvorecer do dia 1º de janeiro de 2008) tem outra explicação para a origem
da Cavalhada. Segundo ele, a Cavalhada é a representação da luta que não houve entre cristãos do exército
do rei da França, Luis IX e os mouros da Tunísia, sob o comando de um Sheik.
Luis comandou a última Cruzada contra os povos pagãos. Cruzada que, aliás, foi
um fracasso e já não tinha nada da violência praticada nas anteriores.
Como os mouros eram grandes
cavaleiros, a guarda de honra do rei Luis entrou numa disputa com a guarda de
honra do Sheik árabe. Em vez de uma luta de morte entre eles, devido ao
respeito que nutriam uns pelos outros, decidiram participar de um desafio que
Waldir narra dessa forma: colocaram uma espécie de trave numa arena e animais “provavelmente
porcos” esticados por cordas.
Os cavaleiros deveriam, em
disparada, cortar a cabeça do animal de um só lance de espada. (Por suas
façanhas em prol do cristianismo, o rei Luis IX foi santificado). Na Cavalhada
conhecida no Brasil (que já foram realizadas com 18, 20 cavaleiros) os animais
para o sacrifício foram substituídos pelas argolinhas.
Na verdade, não há documentos que
permitam assegurar que a Cavalhada provém exatamente de que época. Certo é que
ela representa a luta entre mouros e cristãos e sua origem pode ser da época de
Carlos Magno, no século IX ou das últimas Cruzadas, no século XII.
(Trecho do meu futuro livro sobre a Festa de Santo Amaro)
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