Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

JB lembra tragédia no Gran Circus em Niterói


Ao suspender todos os seus compromissos em Santiago do Chile, aonde estava, para voar imediatamente para Santa Maria (RS) e se solidarizar com as famílias das vítimas fatais e visitar os enfermos, a presidente Dilma Rousseff repetiu o gesto do ex-presidente João Goulart, em dezembro de 1961. 
Jango, maneira como era chamado, acompanhado do então primeiro ministro Tancredo neves (no pequeno período do parlamentarismo brasileiro) também visitou as vítimas do incêndio do Gran Circus Norte-Americano, ocorrido em Niterói, em 17 de dezembro daquele ano, também um domingo. A diferença é que enquanto Dilma visitou as vitimas no mesmo dia da tragédia, Jango foi a Niterói no dia seguinte, dia 18.
Jango (quase careca) com Tancredo Neves (careca) em Niterói em 1961

As vítimas em Niterói (503) eram, quase todas, crianças

O então presidente, na presença ainda do então governador fluminense, Celso Peçanha, ao percorrer as enfermarias do Hospital Antônio Pedro, como o Jornal do Brasil noticiou, também chorou, como ocorreu domingo com Dilma. A reportagem do jornal descreve que "o presidente parou diante de uma menina de cor, envolta em gaze até o queixo, e lhe perguntou se tudo corria bem. A menina sorriu - e o presidente levou as mãos aos olhos, afastando-se logo. Diante de uma criança que mal respirava, exclamou, quase num sussurro: ‘Não é possível, meu Deus’”
A tragédia no Gran Circus provocou um número maior de vítimas do que o incêndio da boate Kiss, no domingo passado: um total de 503 pessoas - 317  mortos no dia. Enquanto no domingo a quase totalidade dos atingidos eram jovens, em 1961 a grande maioria dos que morreram eram crianças. 
Como relembrou o JB, em matéria publicada em 2011 em alusão aos 50 anos da tragédia de Niterói, o incêndio começou quando a trapezista Nena terminava seu salto tríplice. O incêndio foi causado pela vingança de três funcionários do circo após desentendimento com os administradores do espetáculo. Na ocasião, o trio ateou fogo na lona de cobertura e se alastrou facilmente pela lona parafinada que cobria o picadeiro. Os jornais da época noticiaram o crime como a “maior tragédia circense da história”.
Na época, conforme os dados oficiais da polícia, foram responsabilizados pelo crime Dilson Marcelino Alves, 20 anos, conhecido como Dequinha, que tinha sido contratado provisoriamente pelo dono do circo, Danilo Stevanovich, e ajudaria na montagem do picadeiro. Considerado “preguiçoso”, o jovem foi demitido três dias antes do evento. Isto o transformou no principal suspeito do crime, pelo qual confessou a autoria poucos dias depois. Ainda segundo os dados da polícia, ele contou com a ajuda de dois comparsas, Bigode e Pardal.
Versão contestada
A versão de que o incêndio foi criminoso, conforme o relato da polícia, porém, não foi aceita pela maioria das pessoas, como disse o jornalista Mauro Ventura – que escreveu o livro O espetáculo mais triste da história com detalhes do episódio – ao JB na reportagem sobre os 50 anos do incêndio. Ao abordar personagens que vivenciaram o incêndio, o jornalista afirmou que muitos acreditam que um curto-circuito pôs fim ao espetáculo.
Entre as inúmeras pessoas que se comoveram com o incêndio do Gran Circus Norte-Americano, estava José Datrino, que mais tarde se transformaria no famoso profeta Gentileza. Então empresário do setor de transportes de cargas no Rio, Gentiliza interpretou a queima do circo como uma metáfora do incêndio no mundo. Sentiu-se chamado a abandonar o mundo material e decidiu ir para Niterói. No próprio terreno do incêndio, onde hoje está localizado o hospital Policlínica Militar de Niterói, Gentileza fez um jardim e passou a pregar, ali, a bondade e a paz aos transeuntes.
Anos depois, elefanta virou heroína
A elefante fêmea Semba, quando estava pronta para entrar ao picadeiro, começou a correr desesperadamente após um pedaço da lona derretida pelo fogo cair em seu couro. Na corrida desenfreada, o animal abriu caminho e salvou inúmeras pessoas, mas também fez vítimas.
“Com a tromba, atirou a distância dois assistentes, que conseguiram salvar-se. As feras escaparam, embora nenhuma delas tenha conseguido abandonar as jaulas. Só alguns elefantes saíram a correr, sendo imediatamente dominados pelos domadores”, escreveu o JB na época.
(Matéria do Jornal do Brasil)

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