Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Michel Melamed na Bienal de Campos

foto: Rubens Chaves

Para um bate-papo com os campistas, underground ou não, Michel Melamed estará hoje, na Bienal de Campos, juntamente com a professora e atriz fidelense/campista Maria Helena Gomes, na Arena Jovem, às 15 horas.  A mediação será feita pelo poeta Dedé Muylaert.
 
De uma família judia, aos 15 anos Michel Melamed deixou a casa onde vivia com a mãe e três irmãs para morar sozinho num apartamento emprestado pela avó

De formação autodidata, Melamed começa a escrever aos quinze anos, ao participar de um evento na Faculdade da Cidade do Rio, chamado "Terças Poéticas", que reunia autores consagrados como João Cabral de Mello Neto, Ferreira Gullar, Antônio Houaiss, e jovens autores.
Participou da fundação e dirigiu o Centro de Experimentação Poética CEP 20.000, em conjunto com os poetas Chacal e Guilherme Zarvos com eventos mensais no Espaço Cultural Sérgio Porto e publicações. Através do grupo, Melamed teve diversos poemas publicados em antologias e CDs gravados.


Em 2002 atuou, ao lado de Matheus Nachtergaele e Marcélia Cartaxo, no espetáculo Woyzeck, o Brasileiro, recriação polêmica de Cibele Forjaz e Fernando Bonassi da obra clássica do alemão Georg Büchner.


Em cartaz com o sucesso Regurgitofagia, Michel Melamed faz teatro e tevê para difundir sua obra literária e trabalhou em bordel para se sustentar”


Michel Melamed é apenas um poeta. O carioca de 29 anos pode levar choques elétricos com as reações sonoras da platéia ao seu monólogo verborrágico Regurgitofagia, um surpreendente sucesso que teve a temporada prorrogada pela segunda vez em São Paulo. Ele também pode ter subido ao palco como ator em Woyzeck, o Brasileiro, em 2003, e ser rosto conhecido dos telespectadores da TVE do Rio, onde apresenta Recorte Cultural e Comentário Geral, mas garante que não passa de um artista à procura de um interlocutor para as criações literárias. “Quero desaguar minha produção. Se a Globo passar Regurgitofagia depois da novela das oito, vou adorar, mas não aceito mudar uma vírgula. Não busco sucesso a qualquer preço”, avisa ele.



A postura é, aparentemente, de pouco caso com o certo barulho em torno de sua figura. A ansiedade, porém, de ler o que a imprensa publica a seu respeito não é controlada. “Você acha que esse crítico gostou mesmo do espetáculo?”, pergunta, com um jornal na mão. Os cigarros se queimam incansavelmente entre os dedos enquanto conta que decidiu seu destino em cinco segundos. Estava em um bar, aos 15 anos, quando foi encarado por um sujeito: “Sou o escritor Guilherme Zarvos e organizo um projeto de poesia para reunir jovens com poetas consagrados. Você é poeta?”. Impulsivo, Melamed, longe de ter uma produção que lhe garantisse tal designação, confirmou. “Desde aquele dia, passei a escrever metodicamente”, diz ele.



Nesse tempo, a ovelha negra já tinha batido a porta da casa da família judia, onde viviam a mãe e as três irmãs, para morar sozinho em um apartamento cedido pela avó. “Minha mãe não deu a menor bola. Fui uma criança complicada e, aos 15 anos, sentia necessidade de instaurar minha vida”, justifica ele. Para garantir o sanduíche, lia textos em festas e, aos 18, virou barman de um bordel. Ouvia histórias dos dois cafetões da casa para uma biografia e chegou com cautela a jogar charme para as garotas. “Se os caras descobrem que você pegou alguma mulher, rola demissão.”



A vida marginal ficou para as memórias. Regurgitofagia já foi ovacionado por 20 mil pessoas, espantoso para um monólogo de R$ 10 mil. Em junho, vai apresentá-lo em Paris. “O Michel não é acomodado. É um cara incomodado, elétrico e dono de uma mente excitante”, diz o ator Matheus Nachtergaele, colega na peça Woyzeck. Um contrato com a editora Objetiva para a publicação de Regurgitofagia e mais uma obra aliviou o bolso, ao lado do salário da TVE. “Tenho um romance quase pronto que também vai virar peça”, anuncia ele. O escritor declara paixão imensa pelo mar e evita falar que mora em Ipanema para não ficar rotulado como garotão do bairro. Sobre romances, desconversa. “Sou jovem, nem tão feio, nem tão burro. É óbvio que tenho namorada, mas qual é a razão para isso aparecer? Tenho mais interesse em dizer que minha próxima investida é a música”, afirma o poeta, que toca violão e percussão.

(Matéria de Dirceu Alves Jr, da Isto É Gente)



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