Prédio da primeira Câmara de Campos em 1704
Antes de 1989 não se
comemorava o 28 de março como data importante em nossa história. Apenas no
centenário da cidade, em 1935, é que sociedade e poder público se uniram para
marcar a data do centenário. Mas foi com o Garotinho que o 28 de março passou a
ser comemorado. Até então e desde sempre, as comemorações ocorriam em homenagem
ao padroeiro, Jesus Cristo ou Santíssimo Salvador, lembrando o dia de sua
transfiguração, quando aparece, iluminado, no Monte Tabor, para alguns de seus
apóstolos. Que o 28 de março é uma data para ser comemorada, não há dúvida, assim como o 29 de maio, data da fundação da Vila, em 1677.
O que tenho sugerido há 33 anos é que se estabeleça uma data de nascimento para Campos, que se torne
lei e seja disseminada em escolas e todos os demais entes do poder público. Documentos comprovam que a
data de nascimento de Campos, que se deu juntamente com as demais “capitanias
hereditárias” é 28 de setembro de 1532, quando Dom João III, Rei de Portugal,
determina a divisão do Brasil em 15 grandes propriedades, entre as quais a "capitania de São Thomé", com suas trinta léguas entre os rios Managé (hoje
Itabapoana) e Macaé, e cujo limite, a oeste, eram as terras ainda não
imaginadas como sendo dos portugueses e que, mais tarde, conquistadas, seriam
denominadas Minas Gerais. Caso a data acima não se configure razoável, que se
estabeleça o ano de doação dessas terras a Pero de Góis, seu primeiro
donatário, em 1536.
Para justificar a data proposta,
lembro que o Brasil tem seu nascimento em 22 de abril de 1500, quando os
brancos puseram o pé em terra firme. Não ficaram aqui mais que alguns dias e a
“nova terra” recebeu outros nomes (Terra de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz) até o registro definitivo como "Brasil". No
caso de Campos, a certidão de nascimento está registrada. Recebeu outros nomes,
como Capitania de São Thomé, Capitania da Paraíba do Sul, Villa de San Salvador
dos Campos, até a definição como Campos dos Goytacazes, que, não obstante, foi
mudado para Campos e, na década de 1980, novamente Campos dos Goytacazes. Mas a
troca de nomes não é fator relevante neste caso, como não o foi para o país nem
para grande parte das cidades e estados que se orgulham de sua longevidade.
Creio que não se deve deixar de
comemorar nossas datas importantes, como o 29 de maio e o 28 de março (datas da
elevação à categoria de Vila e de Cidade, respectivamente), mas o aniversário,
o nascimento, deve ser divulgado e comemorado como o fato mais importante. Com
a datação de nascimento estabelecida, os fatos históricos ganham um sentido,
uma lógica facilmente assimilável:
Tendo como registro de nascimento
o 28 de setembro de 1532, pode-se falar do batismo em 1536 (carta de doação da
capitania a Pero de Góis e de sua luta para colonizar a terra recebida). Em
seqüência, a destruição de sua propriedade; a tentativa de seu filho, Gil de
Góis, de colonizar a terra recebida como herança; a doação das terras aos “sete
capitães” em 1627; a demarcação das sesmarias em 1633 e sua divisão em grandes
fazendas de gado; a negociação das terras com o general Salvador Corrêa de Sá e
Benevides e algumas irmandades religiosas em 1648; a criação da Câmara em 1652;
a criação da Vila, em 1677, e as lutas travadas pelos “heréos” (herdeiros dos
sete capitães) com as autoridades governamentais do Rio de Janeiro e de
Portugal, incluindo os embates com os poderosos liderados por Benta
Pereira e seus filhos, até 1752, quando a capitania passa a ser,
definitivamente, dos campistas; a criação da Cidade, em 1835 e toda a história
até os nossos dias.
Sugiro, enquanto conhecedor e
interessado na nossa história, enquanto amante desta terra e, repito, para
corrigir um erro de datação que contribui para distanciarmo-nos do nosso
passado de invasores, com um corte que implica em descontinuidade e ilogicidade, pois que
não se pode falar em aniversário de uma cidade que completa 178 anos neste 2013,
quando seu edifício
mais antigo, o Solar do Colégio, hoje Arquivo Público Municipal, tem mais de 300
anos e sua festa mais tradicional, a do Santíssimo Salvador, 360 anos, assim como a Câmara de Vereadores, que é de 1652. Ou seja, como uma Câmara de
Vereadores tem 360 anos e a cidade, 178?
Que esta revisão tenha caráter
normativo e que os documentos oficiais, doravante, possam constar a data do
nascimento da cidade, assim como os responsáveis pela educação no município devem
adotar procedimentos para que a data seja assimilada pelos educandos. Não se
trata de uma imposição, mas de uma correção necessária para evitar a repetição
de erros que geram desinformação e constrangimento como “emancipação
político/administrativa”, tão comum em textos colegiais e jornalísticos. Campos
não emancipou-se, pois não surgiu sob a tutela de outra cidade. Com a correção,
erros como este não mais ocorrerão. E as gerações de hoje e do futuro saberão
que Campos faz parte da história do Brasil desde seus primórdios.
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