Sempre fui contra a obrigatoriedade de diploma para jornalistas. Já debati com os defensores do certificado e, como quase sempre, desafiei alguns de meus contendores a um teste simples, fácil e eficaz: alguém que se proponha a escrever "jornalisticamente" deve sentar em frenta a um computador, com algumas anotações de um fato, de uma entrevista, e escrever uma matéria com um número de linhas previamente estipulado. Simples assim. Coisa de 20 minutos. Meia hora.
E os focas? Bem, quando um órgão de comunicação aceita novatos, estes devem estagiar e, num tempo determinado, estar apto a produzir sem orientador. E qualquer editor saberá se o interessado em escrever (ou falar) tem condições ou não de ser um profissional na área. Não conheço outra maneira. Com diploma ou sem diploma, todos vão passar pelo crivo de uma chefia. E só será jornalista quem a empresa contratante aceitar, seja o profissional bom ou ruim.
Também sempre incentivei o pessoal que já atua na área a aperfeiçoar seus conhecimentos e sua técnica fazendo cursos e, se possível, uma faculdade de jornalismo. É uma maneira de se obrigar a estudar, já que todos temos tendência a acomodação. Todavia, a exigência do diploma para jornalistas é uma aberração sistêmica de uma sociedade que finge ser meritocrática. Dá sempre um jeito de ferrar os mais pobres dificultando o acesso ao emprego, abrindo campo para os mais bem aquinhoados.
Assim é a exigência de profissionais de diversas áreas nas escolas, nas empresas. Exige-se que a escola tenha psicólogos, assistentes sociais, mas não exigem que tenha pedreiro, bombeiro hidráulico. A quase totalidade dos municípios fica no interior, onde não tem curso superior e, quando tem, muitas vezes não atende aos mais pobres. Como as exigências legais são nacionais, os patrões (sejam públicos ou privados), têm que contratar profissionais de outras localidades. No caso público, os salários não são compensadores e não há interessados. No caso privado, sobre o qual a lei é aplicada impiedosamente, o problema é mais grave.
Alguém argumenta, sofisticamente, que seria o mesmo caso para engenheiros, médicos etc.. Na verdade, é misturar alhos com bugalhos. No caso do jornalista, principalmente, porque é uma arte com alguma técnica. Diferente da medicina e outras profissões nas quais a técnica abarca a quase totalidade de seu fazer. O médico é um operário, assim como o engenheiro. Sem um bom curso técnico não há como ser bom. Já o jornalista não é um técnico, não é um operário. A técnica é um simples complemento que, em geral, ele aprende praticando.
Mas não adianta argumentos verdadeiros. O que importa é o poder. O Senado aprovou, as faculdades defendem e os detentores de diploma, claro, querem o privilégio de estar numa atividade que mereça o crédito da sociedade. E o certificado, para esta sociedade não pensante, é o mais importante. Daí que sou "voto vencido". Mas continuo desafiando: coloque um jornalista formado que já não seja um profissional da área e compare com aquele que é jornalista por opção, competência, vocação (não creio muito nisso).
Atuei em capitais e no interior. O jornalista do interior, o "faz tudo" em rádio e jornal (principalmente) é necessário, faz bem o seu trabalho e, maioria das vezes, tem pouco estudo escolar. É auto-didata. Aliás, como o são grande parte dos profissionais de cidades médias e grandes. Muitos cursaram a faculdade depois de velhos e reconhecidos na profissão.
Acreditava-se que o diploma faria aumentar os salários. Mentira. O jornalista é um dos profissionais mais mal pagos do sistema. Com ou sem diploma. E sempre trabalhou muito, ou por exigência das empresas ou porque é um apaixonado pelo que faz. Mas, repito, sou voto vencido. O senso-comum sempre vence o bom senso.
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