Quando se fala tanto sobre o golpe militar de 1964 - afinal, são passados exatos 50 anos - vou registrar minha postagem do ano passado sobre a cassação de Jacyr Barbeto e a morte de Barcelos, que também seria cassado.
Militares vieram a Campos prender Barcelos Martins
No
mesmo dia em que o prefeito Barcelos Martins morreu (eram 8:30h do dia
11 de abril, quando ele infartou), os militares e delegado de polícia
reuniram-se à tarde, na Câmara, para comunicar que tinham ordens
expressas do comando do Exército para prendê-lo, por suas atividades
"comunistas e subversivas".
No dia 13 de abril, a Câmara cassou o mandato de Jacyr Barbeto, do PSP,mesmo partido de João Barcelos Martins. Não há nenhuma dúvida que, se os militares
tivessem encontrado o vereador, ele estaria preso, assim como o prefeito Barcelos Martins,
se não tivesse morrido. Mas o presidente da Câmara, Severino Veloso de
Carvalho Neto, fez um discurso contra aqueles que diziam que o
Legislativo queria cassar Barcelos.
É óbvio que a Câmara cassou Jacyr Barbeto por ordem expressa das forças
da repressão. Só não quis reconhecer que também cassaria Barcelos, que
sofreu muito desde o golpe, no dia 1º de abril, até o dia 10, quando
procurou os líderes de seu partido para saber o que fazer. E mais ainda
quando sua casa foi invadida, na noite do dia 10, com militares de
metralhadoras em punho. Foi um golpe para o prefeito, que faleceu na
manhã do dia 11.
No mesmo dia 11 a Câmara deu posse ao vice-prefeito, então do PTB,
Rockfeller Felisberto de Lima. À tarde, o presidente da Câmara reuniu os
vereadores e o prefeito recém empossado para ouvir as forças da
repressão, lideradas pelo capitão João Pessoa Sales, que havia chegado
do Rio de Janeiro para levar Barcelos Martins preso. Suas ordens,
segundo o próprio, era para levar Barcelos "imediatamente ao Rio e
entregá-lo ao Serviço Secreto do Exército", que tinha um dossiê que o
incriminava por suas atividades subversivas.
Pressionado pelos militares, Rockfeller prometeu agir para impedir que
pessoas "sabidamente seguidoras do credo vermelho, continuassem no serviço
público. No mesmo dia 13, após a cassação de Jacyr Barbeto, a Câmara
aprova votos de regozijo pela eleição do presidente da República,
Marechal Humberto de Alencar Castelo BRanco e seu vice, José Maria
Alkmin. E o vereador Júlio Nogueira fez constar dos anais da Casa o
artigo de Hervé Salgado Rodrigues, dono de A Notícia, no qual criticava
duramente os comunistas.
Agora, a Câmara, por proposição do Dr. Edson Batista, que a preside,
devolve à família de Jacyr Barbeto o seu diploma de vereador. Uma
atitude digna de quem reconhece o erro histórico cometido pelo
Legislativo a mando das forças da repressão. E faz justiça a um dos
maiores líderes sindicais de Campos, tendo sido o vereador mais votado
na eleição de 1962. É um ato simbólico, mas altamente relevante do ponto
de vista histórico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário