Os ricos começam, a partir de agora, a ficar menos preocupados com a destruição da terra. Isso porque, embora ainda sem comprovação, foi descoberto um planeta que pode abrigar humanos. Como os pobres não podem viajar nem mesmo para conhecer os próprios países em que vivem, quanto mais para um passeio interestelar, não há a mínima chance de escaparem de uma provável destruição do nosso planeta. Daí que os ricos poderão sonhar com um futuro em outro planeta, onde, inicialmente, não haverá pobres. Claro que terão que fazer o trabalho árduo. Ou então, levar trabalhadores (só assim os pobres poderão ir ao espaço) como escravos do futuro... mas vamos a reportagem que interessa. A eles, os ricos:
Momento histórico:
encontramos outra Terra no Universo
Desde a descoberta do primeiro planeta a orbitar uma estrela similar ao
Sol, em 1995, a humanidade estava à espera deste anúncio. Finalmente ele
chegou, com toda pompa e circunstância, num artigo publicado no
periódico científico “Science”: encontramos um planeta praticamente
idêntico à Terra orbitando outra estrela numa região que o torna capaz
de abrigar água líquida — e vida — em sua superfície.
O anúncio foi feito na tarde de hoje numa entrevista coletiva
conduzida pela Nasa (uma reportagem mais completa sobre o achado,
produzida por este escriba, estará amanhã nas páginas da Folha).
O planeta orbita uma estrela chamada Kepler-186 e tem, segundo as
estimativas, praticamente o mesmo diâmetro da Terra — 1,1 vez o do nosso
mundo. Até onde se sabe, ele é o quinto a contar de seu sol e leva
129,9 dias terrestres para completar uma volta em torno de sua estrela.
Ou seja, um ano lá dura mais ou menos um terço do que dura o nosso.
A estrela-mãe desse planeta é uma anã vermelha com cerca de metade do
diâmetro do nosso Sol, localizada a cerca de 490 anos-luz daqui. Um dos
aspectos interessantes dessa descoberta em particular é que, além de
estar na chamada zona habitável — região do sistema em que o planeta
recebe a quantidade certa de radiação de sua estrela para manter uma
temperatura adequada à existência de água líquida na superfície –, o
planeta está suficientemente distante dela para não sofrer uma trava
gravitacional.
Caso fosse esse o caso, o Kepler-186f, como foi batizado,
teria sempre a mesma face voltada para a estrela, como acontece, por
exemplo, com a Lua, que sempre mostra o mesmo lado para a Terra. Embora
modelos mostrem que a trava gravitacional não é um impeditivo definitivo
para ambientes habitáveis (a atmosfera trataria de distribuir o calor),
é sempre melhor ter um planeta com dias e noites, em vez de um em que
um hemisfério é sempre aquecido pelo Sol e outro passa o tempo todo na
fria escuridão.
Numa nota pessoal, lembro-me de ter já conversado antes com Elisa Quintana, pesquisadora da Nasa que é a primeira autora da descoberta.
Em 2002, ela produziu uma série de simulações que mostravam que o
sistema Alfa Centauri — o trio de estrelas mais próximos de nós, sem
contar o Sol — podia abrigar planetas de tipo terrestre na zona
habitável. Imagino a realização pessoal dela de, depois de “conceber”
por tantos anos mundos como esse em computador, finalmente poder
reportar uma descoberta dessa magnitude. Não de uma simulação, mas da
fria realidade da observação!
Trata-se de um momento histórico.
A partir de agora, os astrônomos
devem se concentrar cada vez mais na busca de outros mundos similares à
Terra e a Kepler-186f, gerando alvos para futuras observações de
caraterização — a efetiva análise da composição desses mundos e suas
atmosferas –, em busca, quem sabe, de evidências de uma outra biosfera.
Nosso planeta está prestes a ganhar muitas companhias.
(Artigo extraído da Folha de São Paulo)
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