O Felipe Pena publicou ontem, no Jornal do Brasil, uma crônica que não pode deixar de ser lida. Por isso reproduzo-a aqui. Leiam, pois é muito interessante.
Permitam-me dedicar este texto à presidenta Dilma, que terá uma difícil decisão a tomar hoje.
Imaginem se as perdas com os royalties do petróleo fossem do Rio Grande do Sul. Não duvido que, em poucos minutos, os gaúchos organizariam uma revolução e proclamariam a independência do estado. Até consigo ver as barricadas no Palácio Piratini, as trincheiras organizadas por barbudos com lenço vermelho no pescoço, o chimarrão queimando durante a noite e os generais do III Exército organizando suas tropas para proteger o levante.
Se fosse no Rio Grande, os facões sairiam das bainhas, o charque assaria nas fogueiras, Garibaldi reencarnaria em algum imigrante italiano, o Veríssimo (que já está melhor) faria crônicas arrebatadoras, a torcida do Inter fecharia as fronteiras e o Renato Borghetti tocaria o hino farroupilha com sua gaita de ponto. Se fosse no Rio Grande, haveria luta. Mas a perda é do Rio Pequeno, o Rio de Janeiro.
O Rio de Janeiro começou a ficar pequeno na década de 1960, com a mudança da capital para Brasília e, de lá pra cá, a situação só piorou. Perdemos na política, perdemos na economia, perdemos na segurança, perdemos na referência. Ah, sim, continuamos como a capital cultural do país, mas dividimos esse royalty com a violência, sempre pontificada mundo afora como nossa maior mazela. Sem falar em outros problemas graves, como a falta de saneamento, a saúde sucateada e um obsoleto sistema de transportes. Mas o que esperar agora, quando deixaremos de arrecadar R$ 3 bilhões já em 2013, sendo que esse valor anual deverá duplicar até 2019?
Permitam-me responder: não devemos esperar. Se o “Veta, Dilma” não acontecer, está na hora de pensarmos em sair da Federação. Tomemos, pois, o Palácio Guanabara, torcendo para que o governador se junte a nós assim que chegar de Paris. Independência já! Queremos o Rio de Janeiro fora do Brasil. Se não temos chimarrão, podemos servir um chope gelado nas barricadas, acompanhado de um torresminho, claro, porque ninguém é de ferro. E, na falta do Renato Borghetti, reencarnamos a alma do Dicró no corpo sarado do Zeca Pagodinho, além de chamar a bateria do Salgueiro pra manter a cadência da Revolução.
O Arnaldo Jabor pode aparecer no jornal da noite para incendiar os intelectuais, a Miriam Leitão explica os gráficos e o Zuenir Ventura reúne a cidade partida, quer dizer, o estado partido. A raça rubro-negra ocupa a fronteira com São Paulo, a Young Flu toma a divisa com Minas e as caravelas vascaínas protegem nossos mares petrolíferos. Todos os pilotos de asa-delta serão chamados para a força aérea. As garotas de Ipanema serão convocadas para o serviço de inteligência. Os moderninhos do Leblon ficarão na retaguarda. Na Serra, no Norte Fluminense e na Costa Verde, milhares de voluntários se levantarão contra a injustiça, tomando o destino do povo em suas mãos enrugadas pelas enchentes do ano retrasado, já que não terão mais verbas para reconstruir as cidades.
Chegou a hora. Queremos o Rio de Janeiro fora do Brasil. E se você acha que tudo isso é uma piada, espere até ter sua aposentadoria cortada, seus filhos sem emprego e seu município em permanente estado de calamidade pública. Infelizmente, meu amigo, esse é um caso concreto de: independência ou morte.
Ou assunto pra mais um chopinho na praia.
* Felipe Pena, jornalista, é escritor e professor da Universidade Federal Fluminense, com pós-doutorado em semiologia da imagem pela Universidade de Paris – Sorbonne III, além de autor de 12 livros, entre eles o romance 'Fábrica de diplomas'.
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