O advogado e empresário Rubens Paiva foi preso pelos órgãos de repressão da ditadura em 1971. Desapareceu e durante anos a família, amigos e defensores dos direitos humanos acusaram o governo de tê-lo matado. Quando Brizola assumiu o governo do Estado, em 1983, houve uma série da boatos de que ele foi esquartejado e cada pedaço foi enterrado num lugar diferente. O governo mandou cavar em diversos locais, inclusive na praia, nos quais supunha-se que estariam os pedaços do corpo do advogado. Tudo em vão.
Os militares negaram, sempre, que Rubens Paiva tenha sido preso pelo Doi-Codi (órgão de repressão, perseguição, ameaças, tortura e assassinato). Agora, no entanto, após a morte do famoso coronel Molina, assassinado, a polícia fez busca em sua casa para encontrar pistas dos criminosos. Acabou encontrando em seus arquivos um documento sobre a prisão de Rubens Paiva. Leia abaixo a matéria da Folha de São Paulo:
Uma das filhas do ex-deputado desaparecido Rubens Paiva recebeu nesta terça-feira (27) do governo do Rio Grande do Sul cópias de dois documentos que comprovam que ele esteve detido em uma unidade do DOI-Codi no Rio de Janeiro durante a ditadura militar.
Maria Beatriz Paiva Keller, 52, que tinha dez anos quando o pai sumiu, em 1971, mora na Suíça e passava férias no Brasil quando ficou sabendo que a ficha de entrada de Rubens Paiva no órgão havia sido achada pela Polícia Civil gaúcha nos arquivos de um militar reformado morto em Porto Alegre.
Pedro Revillion/Palácio Piratini/Divulgação |
Maria Beatriz Paiva Keller durante ato de entrega de documentos pelo governo do RS |
No início do mês, o coronel Júlio Miguel Molinas Dias, 78, foi morto a tiros na capital gaúcha. A investigação recolheu documentos da casa dele para tentar encontrar uma pista dos criminosos. A polícia acabou localizando nos arquivos o ofício sobre o ex-deputado e papéis sobre o atentado do Riocentro, em 1981.
"A família ainda não sabe onde ele foi enterrado e eu temo pela verdade", disse Maria Beatriz, que é funcionária da Embaixada do Brasil em Berna.
Na cerimônia, emocionada, a filha falou que o mistério do desaparecimento é uma história inacabada, como um "filme que não tem fim". Mais tarde, a jornalistas, defendeu um plebiscito sobre a Lei da Anistia, que impede punição por crimes cometidos durante o regime.
É a primeira vez que surge uma prova documental de que Paiva esteve no DOI-Codi, órgão de repressão da ditadura. Anteriormente, havia apenas testemunhos da presença dele no local.
A íntegra dos documentos do coronel foi entregue formalmente hoje pelo governador Tarso Genro (PT) à Comissão da Verdade do Estado, instaurada em julho para investigar crimes do regime militar.
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Claudio Fonteles, também esteve no evento e recebeu cópias de todos os papéis.
Nesta terça-feira, foram divulgadas apenas cópias de ofícios envolvendo o caso Rubens Paiva. Além da cópia da ficha, há um manuscrito informando que os pertences do carro do ex-deputado foram retirados por um oficial identificado como "capitão Santabaia".
Os papéis serão analisados pelas duas comissões e ainda não há um prazo para a divulgação completa. (FELIPE BÄCHTOLD)
Pedro Revillion/Palácio Piratini/Divulgação | ||
Documento entregue pelo Governo do Estado do RS à Comissão da Verdade |
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