Olavo Bilac, 63 anos, policial reformado que reagiu a um assalto à casa lotérica no Parque Tarcísio Miranda, matando um dos três assaltantes, foi atingido por um dos comparsas do ladrão, que fugiu. Morreu na hora, tendo sua mãe, Dona Zilda, 83 anos, chegado ao local logo depois e encontrado aquela cena terrível. Abraçou o filho mais velho e morreu um pouco também.
Uma cena comum das grandes cidades e que vai se tornando comum em Campos. Infelizmente. Cresce a população, cresce o número de benefícios e, obviamente, o número de problemas. Um deles, grave, é a criminalidade. Há como combater a criminalidade, mas não há como evitá-la num sistema capitalista, opressor. Se as previsões se concretizarem, em menos de 10 anos Campos terá o dobro de habitantes. teremos, então, 500 mil pessoas de fora, estranhas. Muitos vão comemorar o crescimento, o desenvolvimento. Mas muitos sofrerão com o dito cujo.
Olavinho, era assim que o chamávamos na infância, era uma pessoa amável, brincalhona, obediente aos pais e que, após servir ao Exército, entrou para a PM. Como outro amigo vizinho, o Agenor, hoje com 61 anos. Éramos amigos. Quando minha família foi morar no Parque Jockey Club, em 1958, as famílias de Olavinho e Agenor, juntamente com outras que ali estavam, num bairro que se iniciava, nas terras de Cardosinho, como Dona Zélia, "seu" Geovane, "seu" Zé Manhães. Os filhos, que éramos nós, crescemos juntos.
Olavinho, assim como Agenor, na PM, agiram corretamente. Foram policiais exemplares, honrados, com suas vidas simples, mas a postura deles e dos filhos, altiva. Orgulho dos amigos, dos familiares. Reformado, Olavinho teve tempo para andar pelas ruas do bairro. Gostava de conversar com as pessoas, sempre de bom humor. Deixou a barba crescer e parecia mais velho. Casado com Euci, figura doce, meiga, com quem teve duas filhas, Adélia e Marcela. Hoje, duas mulheres bonitas, simples, bem educadas, preparadas.
Hoje, quando no velório, pude rever muitos amigos de infância que, como eu e parte de minha família, foram dar o último adeus ao nosso amigo. A mãe de Olavinho, dona Zilda, seus irmãos, Nilsinha, Walter e Edésio. Sua esposa e filhas, Filhos de Zé Manhães, Antônio Barbosa, Dona Zélia, "seu" Humberto e tantos outros pais que, como o meu, Antônio Avelino, já se foram. Todos com mais de 80 anos. Dizem que quem bebeu a água do Canal de Coqueiros (antes da retirada de 40% das águas do Paraíba para o Guandu, o canal estava sempre cheio) vive muito. Que o diga "seu" Geovane, que está com 86 e lúcido, forte, brincalhão, de bem com a vida.
Perdi minha irmã Leidimar quando ela tinha 15 anos, nas águas do mar do Farol. Foi salvar uma outra menina (conseguiu) e acabou sendo levada pelo Oceano, nas festas de fim de ano de 1977. Todas as famílias vizinhas uniram-se para consolar meus pais. Quando seu" Geovane perdeu vários filhos num acidente de carro, todos foram levar sua solidariedade. E, agora, com a morte estúpida de Olavinho, não foi diferente. Todos os vizinhos estavam lá, presentes, dividindo a dor com a família.
Quando alguém morre, costuma-se dele falar bem. Não sei se é bom ou ruim essa cultura. No caso de Olavinho, no entanto, falar bem dele é um dever, pois é verdade. Faço coro com todos os amigos de infância e com seus colegas na PM e digo que ele foi um homem honrado, um gentleman e morreu no que ele considerava cumprimento do dever. Morte estúpida, mas digna de um homem de bem. Que seu assassino seja encontrado e que responda pelo crime perante a lei.
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