Os ensinadores de bichos não racionais, quaisquer que sejam, são denominados treinadores. Os ensinadores de bichos racionais, são denominados professores. Os primeiros, por temerem a reação dos bichos, geralmente preparam-se para evitar ou reagir a qualquer ação agressiva. Os segundos não estão preparados justamente porque iludem-se acreditando no uso da racionalidade por parte dos aprendizes e seus donos. E as leis protegem os bichos racionais sem levar em conta que a razão existe em potência, mas não significa que seja usada.
Moral da história: os professores sofrem ameaças de agressão veladas e explícitas e, algumas vezes, agressões de fato, como a que foi vítima uma colega do Parque Alvorada esta semana. Os poderes públicos (executivo, judiciário, legislativo) tendem a culpar os professores. Reconheço que toda regra tem exceção e que pode haver um ou outro professor que abusa da autoridade. Coisa rara. E que entre os aprendizes e seus donos há os dotados de razão que usam-na.
Um professor acusado de alguma coisa é notícia, motivo de investigação, inquérito, suspensão, ameaça de demissão etc.. Um aprendiz ou seu dono acusado de algo nada sofre. No que se refere ao constrangimento, o professor sente muito. Já o aprendiz ou seu dono, em geral, não dá a mínima importância. Conheço animal com medo, mas nunca sofrendo por constrangimento.
Já que estamos ainda no clima eleitoral, uma analogia cabe aqui: o candidato suspeito de comprar votos é detido e processado, sofre constrangimento, pode perder o mandato se eleito etc.. Quem vende o voto sofre o que? Até porque, em geral, nada tem que possa perder (nem dignidade, nem bens, nem nome, enfim, nada).
Não creio que as leis devam ser mudadas, mas a aplicação delas merece um debate mais aprofundado. No município, os novos vereadores poderiam, envolvendo professores, diretores de escolas, pedagogos, supervisores escolares, vigias e promotores, discutir a questão e encontrar meios de evitar situações como essa da qual foi vítima a colega do Parque Alvorada. O agressor (aprendiz ou seu dono) deve sofrer penalidade para que, pela coerção, os demais (aprendizes e seus donos) não sintam-se motivados a fazer o mesmo.
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