Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Em defesa dos professores

Os ensinadores de bichos não racionais, quaisquer que sejam, são denominados treinadores. Os ensinadores de bichos racionais, são denominados professores. Os primeiros, por temerem a reação dos bichos, geralmente preparam-se para evitar ou reagir a qualquer ação agressiva. Os segundos não estão preparados justamente porque iludem-se acreditando no uso da racionalidade por parte dos aprendizes e seus donos. E as leis protegem os bichos racionais sem levar em conta que a razão existe em potência, mas não significa que seja usada.

Moral da história: os professores sofrem ameaças de agressão veladas e explícitas e, algumas vezes, agressões de fato, como a que foi vítima uma colega do Parque Alvorada esta semana. Os poderes públicos (executivo, judiciário, legislativo) tendem a culpar os professores. Reconheço que toda regra tem exceção e que pode haver um ou outro professor que abusa da autoridade. Coisa rara. E que entre os aprendizes e seus donos há os dotados de razão que usam-na.

Um professor acusado de alguma coisa é notícia, motivo de investigação, inquérito, suspensão, ameaça de demissão etc.. Um aprendiz ou seu dono acusado de algo nada sofre. No que se refere ao constrangimento, o professor sente muito. Já o aprendiz ou seu dono, em geral, não dá a mínima importância. Conheço animal com medo, mas nunca sofrendo por constrangimento.  

Já que estamos ainda no clima eleitoral, uma analogia cabe aqui: o candidato suspeito de comprar votos é detido e processado, sofre constrangimento, pode perder o mandato se eleito etc.. Quem vende o voto sofre o que? Até porque, em geral, nada tem que possa perder (nem dignidade, nem bens, nem nome, enfim, nada). 

Não creio que as leis devam ser mudadas, mas a aplicação delas merece um debate mais aprofundado. No município, os novos vereadores poderiam, envolvendo professores, diretores de escolas, pedagogos, supervisores escolares, vigias e promotores, discutir a questão e encontrar meios de evitar situações como essa da qual foi vítima a colega do Parque Alvorada. O agressor (aprendiz ou seu dono) deve sofrer penalidade para que, pela coerção, os demais (aprendizes e seus donos) não sintam-se motivados a fazer o mesmo. 

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