Quando o presidente Emílio Garrastazu Médici assumiu o poder, após a assinatura do AI-5 e de uma junta militar ter assumido o governo interinamente, devido a doença de Costa e Silva, os brasileiros já estavam com os cintos mais que apertados (quem não se lembra da política de "aperte o cinto" para que o bolo pudesse crescer e, depois de crescido, ser dividido?). Inicia-se um tempo de violência exacerbada, de torturas e assassinatos nunca vistos antes, porém, ao mesmo tempo, o crescimento econômico chegou a dígitos tais que o período ficou conhecido como "milagre brasileiro".
Com a economia indo muito bem, Médici chegou a ir a campo de futebol, com radinho de pilha no ouvido. Postava-se como um presidente popular e a população (afora aquela minoria consciente e corajosa), era favorável ao ditador. Músicas que exaltavam o Brasil, principalmente por ocasião do tri-campeonato mundial de futebol, eram cantadas de norte a sul. E quem reclamava ouvia de pronto a frase, também popularizada pelo governo e reproduzida pelos incautos: "Brasil, ame-o ou deixe-o!"
Quando os árabes, até então donos do petróleo, combustível que move o mundo, resolveram aumentar os preços do barril, a quebradeira foi geral. Por aqui, foi o fim do milagre brasileiro. E A mesma população que aplaudia o presidente passou a ouvir a nós, minoria, que tentava mostrar as torturas, os assassinatos, as perseguições, as mentiras dos ministros sobre a inflação, a corrupção e os assassinatos cometidos pela polícia (esquadrões da morte, mãos brancas) em favor dos empresários e de políticos a eles ligados.
O presidente sofreu desgaste de tal ordem que saiu mal do governo. Entrou Geisel, prometendo dias melhores, o fim da ditadura coma abertura política e a anistia. Reduziu os toques de recolher e fez vista grossa para as reuniões familiares (a gente tinha que pedir autorização ou avisa aos milicos que estávamos comemorando um aniversário ou coisa assim, para justificar reuniões em casa). A economia indo mal, Geisel foi antipatizado e, claro, continuou prendendo os descontentes, torturando, matando, cassando parlamentares.
Figueiredo ganha mais uma estrela e, com quatro, se equiparava aos outros generais. Com isso, assumiu a Presidência da República, mas a economia ia tão mal que ele foi admoestado até por garotos. Em seu governo, até as mulheres protestaram (não é incrível?!) contra o governo. E o resto todo mundo já sabe (ou deveria saber).
Por que escrevo tudo isso? Para dizer que tudo que estão falando contra a Dilma é real e balela ao mesmo tempo. Se a economia estivesse bem, nada disso estaria ocorrendo, O problema é a economia. Se ela vai mal, quem estiver na Presidência vai mal. O resto é justificativa para os atos públicos. As pessoas, em geral, só sentem quando "dói" no bolso. Se houvesse(houver) uma recuperação da economia, Dilma vai ser adorada por esses mesmos que hoje protestam.
O PT foi criado pela ditadura militar para dividir as forças que se uniam em torno de Leonel Brizola. Tinham um discurso, os petistas, como se o Brasil começasse ali, nas greves do ABCD paulista. Temendo a rejeição, os intelectuais usaram uma liderança operária, o Lula, que poderiam manipular. Passou o tempo e há anos o feitiço virou contra o feiticeiro: É o operário (ex) que manipula os intelectuais e o PT. Ninguém enxergou isso (afora uma pequena minoria, como sempre), porque a economia ia bem.
Lula negociou com a direita e todos bateram palma. Esqueceram-se de Itamar Franco, que criou o Real. O crédito pelo fim da inflação, dado a Fernando Henrique, passou a ser dado a Lula. Este tornou-se o salvador da Pátria. Infeliz de um povo que precisa de um salvador. Lula elegeu, com a corrupção, a sua indicada, Dilma Roussef, que ninguém conhecia nem queria. Mas a economia indo bem, o Presidente elege até um poste. Bateram palma. Primeira mulher a governar o país. Que beleza! O melhor dos mundos!
Agora que a crise que assolou os EUA, a Europa, chega a nós, as pessoas querem a derrubada de Dilma, tentam macular o nome e a história de Lula. Pedem até a volta dos militares! Insanidade? Não. Ingenuidade e o gosto de ser manipulado. A maioria do nosso povo, gado, no dizer de Zé Ramalho, ou cordeiros, no dizer dos vendedores de terrenos no céu, olha apenas para o próprio umbigo. Reclama-se de tudo como se vivêssemos no pior dos mundos, quando vivemos no melhor dos mundos. O problema é que, quando temos que abrir mão de um conforto adquirido, agimos como se o mundo tivesse desabando sobre nós.
Os culpados não são os espoliadores do povo, não é o pessoal do Judiciário, os oportunistas (muitos artistas entre eles). Os culpados são os políticos. A mídia manda o povo dizer isso e o povo repete o que houve como se verdade fosse. Não há nenhum debate sério. A audiência está no falar mal daqueles que necessitam do voto Ou de empresários envolvidos com escândalos. O sistema espoliador nunca é colocado em questão.
Agora fala-se, demagogicamente que devemos acabar com as representações legislativas. Idiotice? Insanidade? Ingenuidade? Com 200 milhões de habitantes, temos poucos parlamentares no Congresso Nacional. Quanto menos parlamentares, mais fácil a manipulação. Nem sabe o povo que o dinheiro das casas legislativas não muda de valor, se houver dez, cem ou mil parlamentares. O que ocorre é que, com maior quantidade, o dinheiro fica mais curto para cada gabinete. E a representação torna-se mais democrática.
Mas a mídia prefere a demagogia e reproduz as insanidades de alguns que não passarão para a história senão como lixo. Triste, muito triste tudo isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário