Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







sábado, 28 de março de 2015

Campos: 180 ou 483 anos?

Campos, 180 ou 483 anos?
O “nascimento” de Campos, então como Capitania de São Thomé, se deu juntamente com as demais “capitanias hereditárias”, em 28 de setembro de 1532, quando Dom João III, Rei de Portugal, divide o Brasil em 15 grandes propriedades, entre as quais a capitania de São Thomé, com suas trinta léguas entre os rios Managé (hoje Itabapoana) e Macaé, e cujo limite, a oeste, encontram-se as terras de Minas Gerais, ao norte/noroeste, o Espírito Santo e, por óbvio, a leste, o Oceano Atlântico.

Registre-se que o Brasil tem seu nascimento em 22 de abril de 1500, quando os brancos puseram o pé em terra firme. Para os invasores, era uma ilha, que chamaram de Vera Cruz. Depois, Terra de Santa Cruz e, finalmente, Brasil. Não ficaram aqui mais que alguns dias e a “nova terra” estava “batizada”, sem ainda o devido registro. No caso de Campos, a certidão de nascimento existe.

Como o Brasil, esta terra recebeu outros nomes, como Capitania de São Thomé, Capitania da Paraíba do Sul, Vila de San Salvador dos Campos, até a definição como Campos dos Goytacazes. Depois, mudou para apenas Campos e, novamente, já na década de 1980, Campos dos Goytacazes. Mas a troca de nomes não é fator relevante neste caso, como não o foi para o país nem para grande parte das cidades e estados que se orgulham de sua longevidade.

Creio que não se deve deixar de comemorar nossas datas importantes, como o 29 de maio e o 28 de março (datas da elevação à categoria de Vila e de Cidade, respectivamente), mas o aniversário, o nascimento, deve ser divulgado e comemorado como o fato mais importante. Com a datação de nascimento estabelecida, os fatos históricos ganham um sentido, uma lógica facilmente assimilável. Isso porque muita gente, inclusive professores, trataram o dia de hoje, 28 de março de 2015, como “aniversário” da cidade, que completou “180 anos”.

Tendo como registro de nascimento o 28 de setembro de 1532, pode-se falar do batismo em 1536 (carta de doação da capitania a Pero de Góis e de sua luta para colonizar a terra recebida). Em sequência, a destruição de sua propriedade; a tentativa de seu filho, Gil de Góis, de colonizar a terra recebida como herança; a doação das terras aos “sete capitães” em 1627; a demarcação das sesmarias em 1633 e sua divisão em grandes fazendas de gado; a negociação das terras com o general Salvador Corrêa de Sá e Benevides e algumas irmandades religiosas em 1648.

Como se não bastasse, há a criação da Câmara em 1652, quando ocorreu, em dezembro, a primeira eleição dos vereadores; Em seguida, a criação da Vila, em 1677, e as lutas travadas pelos heréos (herdeiros dos sete capitães) e confinantes (fazendeiros vizinhos) com as autoridades governamentais do Rio de Janeiro e de Portugal, incluindo Benta Pereira e seus filhos, até 1752, quando a capitania passa a ser, definitivamente, dos campistas; e a elevação à categoria de Cidade, em 1835, fato que ocorreu juntamente com Angra dos Reis e Niterói, municípios que comemoram suas datas de nascimento em 06 de janeiro de 1502 (quando apenas recebeu uma denominação: Ilha de Santos Reis) e em 22 de novembro de 1563, respectivamente.

Se seguíssemos a datação de Angra, o nascimento de Campos seria em 1501, quando foi avistado o cabo que recebeu o nome de Cabo de São Thomé, na expedição de Gaspar de Lemos. Essa mesma expedição é que chegou a Angra em janeiro de 1502 e, como era dia 06 de janeiro, dia dos Santos Reis (os Reis Magos da mitologia cristã), denominou a ilha de Ilha dos Santos Reis.

Há que se perguntar, então: como Angra dos Reis montou sua história a partir da denominação da ilha por uma expedição de reconhecimento e todos aceitam sem problema algum, mas garantindo razoabilidade a todos os fatos posteriores, e Campos, reconhecido meses antes, em junho de 1501, comemora 1835 como “aniversário”? A mesma pergunta pode ser feita quanto a Niterói, que comemorou em novembro, 451 anos de existência.
Avelino Ferreira

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