Sempre atento às questões que, realmente, merecem ser refletidas, o jornalista Paulo Renato Pinto Porto leu texto de Santayana, ficou indignado e me enviou o artigo, que publico logo abaixo.
Amigo, o povo precisa ir às ruas contra mais esse absurdo, um crime de
lesa pátria, não há dúvida, e que deve ser evitado a qualquer custo. Descobertas
feitas pela Petrobras indo a leilão, de mão beijada para que as multinacionais
mais uma vez venham explorar nossas riquezas em nome dos grandes interesses estranhos
ao país. A pergunta que não quer calar é:
o que faz a ANP? O que foi que a ANP descobriu? Quem são os seus testas de
ferro? E Dilma, com toda sua biografia, pode entrar para a história como FHC,
que também vendeu o Brasil. Saudações
democráticas!
A batalha
do pré-sal
Mauro
Santayana
Nos últimos
dias, a licitação do campo de Libra, no Oceano Atlântico, dividiu com o
julgamento dos embargos infringentes pelo STF a atenção da sociedade
brasileira. O governo e a Presidente da Petrobras, Graça Foster, defendem a
realização do leilão, marcado para o dia 21 de outubro. Argumentam que a
empresa brasileira, com baixa disponibilidade de caixa, devido ao
crescimento da importação de combustíveis nos últimos anos, não teria dinheiro
para fazer frente aos pesados investimentos exigidos.
Outros
especialistas, como o ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras no
governo Lula, considerado um dos descobridores do pré-sal, Guilherme Estrella,
acreditam que a realização da licitação do Campo de Libra é um erro
estratégico, já que a Petrobras investiu sozinha na descoberta do poço.
“Libra são 10 bilhões de barris de petróleo já descobertos, é muito óleo. A nossa posição de reserva com o pré-sal é muito confortável pelos próximos 20 anos. Por que abrir Libra para a participação de empresas estrangeiras e interesses estrangeiros?”, disse em recente seminário realizado no Rio de Janeiro.
No Senado, os senadores Roberto Requião (PMDB-PR), Pedro Simon (PMDB-RS) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) protocolaram projeto de decreto legislativo que impede a realização do leilão, que tem que ser aprovada pelas duas casas do Congresso. Os três senadores combinaram também articular uma ação popular contra a iniciativa. E o PSOL prepara um mandato de segurança contra o leilão para ser apresentado ao STF.
Por trás
disso tudo estaria, segundo Fernando Siqueira, Vice-Presidente do Clube de
Engenharia e Diretor da AEPET – Associação dos Engenheiros da Petrobras, a
intenção da ANP de favorecer empresas estrangeiras. O poço de Libra, com 15 bilhões de barris, estaria, na verdade, ligado a
outro poço, o de Franco, descoberto antes, com 9 bilhões de barris.
Dessa forma, quem levar Libra, licitado primeiro, pode acabar tendo acesso também ao petróleo de Franco, o que diminuiria o interesse (e as reservas disponíveis) em caso de licitação do segundo poço.
BÔNUS DE 15 BILHÕES
Outro
ponto levantado pela AEPET é o bônus de assinatura, de R$ 15 bilhões, que a
empresa vencedora deverá pagar ao governo. A lei 12.351, de 2010, que cuida do
regime de partilha, determina que esse bônus não pode ser ressarcido. No
entanto, para Fernando Siqueira, a resolução nº 5 do Conselho Nacional de
Política Energética (CNPE) e o contrato de partilha elaborado pela ANP permitem
que o bônus seja considerado no cálculo do custo em óleo.
Isso significa que o bônus, seria, na verdade, devolvido à empresa, já que
poderá ser abatido da parcela de petróleo que o consórcio vencedor tem que
entregar à União. Quem
ganhar o leilão – lembram os opositores à medida – não estará adquirindo
um bloco, para pesquisa, mas, na realidade, assumindo um poço onde o petróleo
já está praticamente à disposição, faltando apenas cubá-lo, coisa que será
feita com tecnologia e equipamento da própria Petrobras.
Ora, nesse caso, porque não fazer tudo diretamente com a Petrobras? A lei
permite que, se quiser, o governo contrate diretamente a empresa para explorar
esse petróleo sem licitação. Não haveria nenhum impedimento legal para isso. Outro
ponto que se discute, também em uma carta escrita para ser enviada à Presidente
da República, é a forma autoritária em que foi decidida a formatação do edital.
Nem “o MME, o CNPE, a ANP ou a EPE, nenhum desses órgãos possibilitou ao
público acesso a documentos explicando a perspectiva das descobertas, o
percentual do petróleo que será destinado para o abastecimento brasileiro ou
exportado, por exemplo.”
As
dezenas de entidades que assinam o documento, argumentam que a Petrobras
deveria desenvolver esse poço, e passar depois, calmamente, para a exploração
dos outros poços que o Brasil descobriu no pré-sal. O cálculo é de que o
petróleo descoberto até agora daria para abastecer o país pelos próximos 50
anos.
POR QUE A
PRESSA?
Realmente
fica difícil entender a pressa. O problema do Brasil, hoje, é de falta de
combustíveis, não de petróleo bruto. Precisamos é de refinarias. Se
extraíssemos mais petróleo, teríamos de mandá-lo para o exterior por falta de
capacidade de refino.
Ao
estimular a venda de automóveis, sem assegurar de onde viria o combustível, o
governo deu um tiro no pé que hoje afeta até mesmo o nosso balanço de
pagamentos. Ao negociar com as empresas o novo regime automotivo, o governo
deveria ter exigido mudanças que diminuíssem a extrema dependência que temos,
hoje, de combustíveis fósseis.
Um prêmio
em dinheiro (em reais) poderia ter sido criado para incentivar as usinas a
produzir maçiçamente etanol, o que diminuiria a oferta de açúcar no mercado
internacional, aumentando o seu preço – assegurando-se o abastecimento interno
de açúcar com estoques do próprio governo. E a produção de carros híbridos, elétricos ou a ar comprimido poderia também
ter sido estimulada, nos últimos anos, diminuindo nossa dependência da gasolina
estrangeira.
Mesmo considerando-se tudo isso, o Brasil precisa ficar com o máximo do petróleo que ele mesmo descobriu. As empresas estrangeiras devem vir de fora para procurar novas reservas e não explorar as que já existem.
O grande desafio agora é destravar os problemas que estão impedindo o avanço da construção das refinarias e investir na produção de combustível nacional, como o etanol, o biodiesel, o hidrogênio para transporte público, e em carros híbridos e elétricos, por exemplo.
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