Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







domingo, 22 de agosto de 2010

Para lembrar Ednardo...

Eu venho das dunas brancas
onde eu queria ficar,
deitando os olhos cansados
por onde a vista alcançar.

Meu céu é pleno de paz,
sem chaminés ou fumaça.
No peito, enganos mil;
na terra é pleno abril

No peito, enganos mil;
na terra é pleno abril.

Eu tenho a mão que aperreia,
eu tenho o sol e areia,
sou da América, sul da América, south América
eu sou da nata do lixo,
eu sou do luxo, da aldeia,
sou do Ceará.

A praia do futuro...
o farol velho e o novo
são os olhos do mar,
são os olhos do mar, são os olhos do mar.

O velho que apagado,
o novo que espantado,
vendo a vida espalhou,
luzindo na madrugada,
abraços, corpos suados,
à praia, falando amor.

Querendo dizer tanta coisa e, ao mesmo tempo, sem vontade de dizer, por não ver sentido no dito, pois o que se diz não passa de superficialidade, que é o que deseja a quase totalidade das gentes, preferi escrever uma letra do Ednardo. Ele, Fagner, Belchior e Amelinha "invadem" o Sul Maravilha, resistem, sofrem e vencem. Mas a máquina é a máquina. O sistema não se interessa por cultura e, sim, por dinheiro. Fazem surgir novos valores para, logo depois, enquadrá-los. Belchior não aceitou e se ferrou. Amelinha não aceitou e se ferrou. Ednardo não aceitou e... Fagner fez diferente e deixou-se massificar.

Aliás, a indústria cultural permite tudo, desde que esse "tudo" possa ser massificado.  Caso contrário, o descarte é rápido. Na ditadura ainda havia espaço para os resistentes. Mas os anos 1990 os espaços são abertos para a mediocridade, como o axé; o sertanejo que de sertão não tem nada (inventaram até um "sertanejo universitário"); o pagode, que impuseram como estilo, como ritmo; o funk (existe até o funk de Jesus, que os protestantes adoram)... enfim, a superficialidade impera e é difícil suportar tudo isso. Para poder continuar vivendo, todavia, resta a mim fazer parte desse latifundio. Mas nesta madrugada estou exaurido. E preferi postar a letra de Ednardo, na qual ele pôs uma belíssima música e gravou, em 1973.

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu amigo,
exauridos ficamos todos nós quando sentimos na carne que sonhos sonhados podem não ser realizados, que sonhos sonhados não nos faz acordar repentinamente para vÊ-los Real.
Só lhe digo uma coisa:
Este latifúndio ainda será nosso.
Tenhamos paciência e perseverança, protocolemos nossos sonhos de forma que não nos sintamos alheios a nossa história.

Para você, meu amigo, meus respeitos!


Como Nossos Pais
Belchior

Não quero lhe falar
Meu grande amor
Das coisas que aprendi
Nos discos...
Quero lhe contar
Como eu vivi
E tudo o que
Aconteceu comigo

Viver é melhor que sonhar
E eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...

Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram(???) e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...

Para abraçar meu irmão
E beijar minha menina
Na rua
É que se fez o meu lábio
O seu braço
E a minha voz...

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantado
Como uma nova invenção
Vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pr'o sertão
Pois vejo vir vindo no vento
O cheiro da nova estação
E eu sinto tudo
Na ferida viva
Do meu coração...

Já faz tempo
E eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Esta lembrança
É o quadro que dói mais...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como Os Nossos Pais...

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
As aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém

Você pode até dizer
Que eu estou por fora
Ou então
Que eu estou inventando...
Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...

E hoje eu sei
Eu sei!
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Está em casa
Guardado por Deus
Contando seus metais...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como Os Nossos Pais...


NÃO SE ESQUEÇA, COMPANHEIRO, QUE ELES SEMPRE NOS DIZEM A MESMA COISA :

Você pode até dizer
Que eu estou por fora
Ou então
Que eu estou inventando...
Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...

À ELES VAMOS RESPONDER:


Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantado
Como uma nova invenção
Vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pr'o sertão
Pois vejo vir vindo no vento
O cheiro da nova estação
E eu sinto tudo
Na ferida viva
Do meu coração...