Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







segunda-feira, 6 de julho de 2015

Jovens deixam família e casam-se com extremistas islâmicos

Jovens deixam família e amigos e partem para o Oriente Médio para se casar com combatentes do grupo, famoso por decapitações.


Foto: Reuters
Algumas ‘noivas da jihad’ expressaram desejo de retornar, mas devem sofrer consequências. 
No início de junho, a imprensa russa gerou furor com a história de Varvara Karaúlova, de 19 anos. Estudante de filosofia na mais prestigiosa instituição do país, a Universidade Estatal de Moscou, ela foi encontrada em território turco, seguindo para a Síria para se unir às fileiras do EI (Estado Islâmico da Síria e do Iraque).
A guarda de fronteira turca a deteve em 4 de junho, quando a estudante tentava entrar no país vizinho, e seu pai teve que buscá-la na cidade de Batman, no sudeste turco. 
“Foi graças aos turcos, que já acumularam bastante experiência nisso, que Varvara foi detida ainda na fronteira entre Turquia e Síria”, explica o cientista político Aleksêi Malachenko, do Centro Carnegie de Moscou.
Karaúlova não foi a única russa que se rendeu à atração do EI. Somente em junho, foram relatados pelo menos quatro casos distintos de jovens russas entre 16 e 19 anos que tentaram ou conseguiram efetivamente entrar em território sírio para integrar o grupo radical. 
Mais de 500 europeias 
 De acordo com um relatório publicado em janeiro pelo ICSR (International Centre for the Study of Radicalisation and Political Violence), enquanto o número de estrangeiros lutando em território sírio ultrapassa os 20 mil, batendo o Afeganistão nos anos 1980, 4.000 desses provêm de países do Leste Europeu, e 550 são mulheres europeias. 
Segundo o FSB (Serviço de Segurança Federal russo), há hoje 1.700 russos, provenientes sobretudo do Cáucaso do Norte, combatendo no grupo. Mas analistas políticos acreditam que as cifras sejam ainda maiores.
Para o chefe do Centro Antiterrorismo da Comunidade dos Estados Independentes, Andrêi Nôvikov, até 5.000 cidadãos russos integram as tropas do EI.
Por que elas?
Associação de jovens como Karaúlova intriga Rússia. Foto do arquivo pessoal

O caso de Karaúlova intrigou a sociedade russa sobretudo porque a jovem cresceu em uma família cristã abastada que nunca teve ligação com o Islã. 
A estudante começou, há alguns anos, a se interessar pelo Oriente Médio, estudar árabe, e, por vezes, vestir o hijab, o lenço usado para cobrir a cabeça. Mas não se sabe ainda qual o motivo de sua associação, e se ela foi atraída por um dos recrutadores do EI que, acredita-se, existem em toda a Europa.
“Fala-se muito agora sobre certos pontos de recrutamento espalhados pela Europa e Rússia para influenciar jovens do sexo masculino capazes de empunhar armas. Mas, pelo visto, um trabalho semelhante é feito com as mulheres”, diz Malachenko.
Além disso, o grupo tem buscado atrair não apenas jovens combatentes, mas diversos profissionais. 
Além de um anúncio da organização que ganhou popularidade oferecendo salário de US$ 225 mil para a vaga de gerente em seus campos de petróleo - cerca de 12 tomados entre a Síria e o Iraque -, desde o ano passado circulam vagas para médicos, juízes, programadores, designers e até hackers.
No caso de Karaúlova, acredita-se que a jovem seria usada com o objetivo de ensinar o russo, terceira língua na escala de importância do EI, atrás apenas do árabe e do inglês. 
Noivas (e viúva) da jihad
As jovens atraídas pela organização, na maioria das vezes, são as chamadas “noivas da jihad”, que partem para a Síria com o intuito de se casar com combatentes do EI - e de lhes garantir a prole.
Foi o que aconteceu com a estonteante Seda Dudurkaeva, filha de Asu Durdukaev, um ex-ministro na república russa da Tchetchênia. Sua fuga para Aleppo, aos 20 anos, no final de 2013, para casar-se com um combatente do EI resultou na demissão do pai, anunciada no Twitter pelo presidente tchetcheno Ramzan Kadirov.
Renomeada como Aisha, a jovem logo ficou viúva do austro-georgiano Hamzat Borchashvili, e casou-se com um dos melhores amigos do marido morto, o comandante georgiano Abu Omar al-Shishani, um dos líderes da organização.
Diversas adolescentes europeias trilharam caminhos semelhantes, mas hoje estariam tentando voltar para casa, como as austríacas de ascendência bósnia Samra Kesinovic, 16, e sua amiga Sabina Selimovic, 15, ou as gêmeas britânicas Zahra e Salma Halane, 17, de pais somalianos.
Mas, se conseguirem retornar a seus países, essas garotas devem enfrentar consequências: interrogatórios, multas que chegam aos U$ 250 mil e até prisão - caso da auxiliar de enfermagem norte-americana Shannon Conley, 19. No Reino Unido, o governo ainda avalia novas leis que poderiam impedir o retorno de seus cidadãos. 
Karaulova não corre risco de ser expulsa da universidade, segundo o reitor Vladímir Mironov, mas ficará suspensa. “Em um período de um ano ela deve ter o direito de voltar à faculdade”, disse.
Encanto extremista
As redes sociais têm papel crucial no recrutamento pelo EI. Além disso, para o psicólogo russo Pável Ponomariov, jovens laicos aderem ao Islã por se sentirem incapazes de se realizar. 
“No caso de Karaúlova, trata-se de um suicídio social, uma tentativa de se apagar por completo da sociedade em que vivia e encontrar uma nova identidade em outro mundo”, diz. 
Malachenko relembra ainda o perigo da busca por um ideal de justiça e valores utópicos.
“Uma parisiense afirmou que partia para combater pelos ideais islamitas, que eram ‘superiores àqueles que lhe ensinaram na escola e na igreja’. Talvez essa pessoa fosse sincera, mas talvez ela tenha apenas cansado da rotina e busque algo mais excitante. Afinal, para ‘lutar pela justiça’, há quem parta não apenas para a Síria e o Iraque, mas também para o leste ucraniano”, diz Malachenko.
Já o historiador e arabista Gueórgui Mírski compara a popularidade do pensamento extremista atual com a dos anos 1930. “A única diferença é que, na época, os jovens ocidentais instruídos se uniam aos radicais de seu tempo: comunistas ou nazistas.”
(Matéria da Gazeta Russa)

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