Quando Dom Alberto Navarro tornou-se bispo de Campos, pondo fim (com dificuldade) a uma era medieval do catolicismo, via Dom Antonio de Castro Mayer, foi proposto e ele aceitou (e incentivou) a realização de espetáculo teatral público sobre o sofrimento de Cristo. Para tanto, precisaria de artistas de teatro (que eram muitos naquela época (1982).
Felício Rizzo foi escolhido para representar Jesus, Anthony Garotinho era narrador, ao lado de Maria Helena Gomes (se não me engano), o diretor foi Orávio de Campos o "papa" do teatro; eu fiz o Caifaz (ganhei o ódio de muitos cristãos). No elenco, dezenas de atores além de mim, entre os quais Rosinha Matheus, Mariza Almeida, João Vicente Alvarenga, Gildo Henrique, Carlos Pavuna e muitos outros. Nada era gravado.
No ano seguinte, eu e Orávio decidimos que a história de Jesus tinha que ser mais aproximada com a nossa realidade. Orávio pensou, pensou, e decidiu escrever a história de um casal de cortadores de cana que viria de bicicleta de Sapucaia para a Santa Casa. A mulher estaria grávida e José, seu marido, desesperado, chega à Praça São Salvador, perguntando onde era o hospital. A mulher sentia fortes dores e o filho nascia ali, ladeado de algumas pessoas que cercaram o local para ver o que estava ocorrendo. Era o nascimento de Cristo.
Mas passados os anos, ele começaria a pregar a palavra (dos evangelhos) e, como subversivo (vivíamos na ditadura), ele seria detido no Calçadão pela Polícia Militar, que o fuzilaria em frente ao Pelourinho, justamente na Páscoa. Um jornal abriu manchete: PM vai fuzilar Jesus Cristo no Calçadão". O coronel do 8º BPM não gostou nada do assunto e chamou Orávio para explicações. O bispo também não gostou.
Sem poder refazer a lenda da Paixão de Cristo (como faz o cinema, por exemplo), e sem querer perpetuar uma historinha como se verdade fosse todos os anos, nos retiramos. Félix Carneiro assumiu a responsabilidade do espetáculo e grande parte dos atores, cristãos todos eles, resolveram ficar. Deu no que deu. Todo ano, a mesma coisa, embora com o uso da tecnologia e mais apoio da Prefeitura. Dom Navarro foi embora e o grupo ganhou o seu nome.
Explicação para a história, pois já caiu no esquecimento e é um fato importante, já que valorizaram tanto a peça que os bispos posteriores mantiveram-na.
Abaixo, trecho da matéria de hoje do jornal virtual Campos 24 horas sobre a encenação:
A “Paixão de Cristo” 2015, intitulada “Eis o Cordeiro de Deus”, será encenada nesta sexta-feira (3), às 20h30, na Praça São Salvador. Com a realização da Prefeitura de Campos, através da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, o espetáculo marcará as comemorações dos 33 anos do Grupo de Teatro Sacro Dom Carlos Alberto Navarro, que encenará sua 34ª versão da montagem.
A história começará com a cena em que o profeta João Batista realiza o batismo de seu primo, Jesus. A Santa Ceia e a traição de Judas também terão grande foco. O julgamento, a condenação e a crucificação de Cristo ocuparão uma sequência emocionante, com cinco grandes cenas.
No palco, Mateus Nogueira viverá Jesus, pelo 15º ano. Rosângela Queiroz dará vida a Maria. Também estarão em cena, Dorinha Martins (Maria Madalena), Wilson Heidenfelder (João Batista), Pedro Fagundes (Caifás), Rivelino Ignácio (Pilatos), Rodrigo Mendes (Herodes), Mario Márcio Peixoto (sacerdote), Rique Ribeiro (sacerdote), Glaucier Arly (José de Arimatéia), Alexandre Dolly (Nicodemos) e Diangelo Soares (anjo).
Este ano, os apóstolos serão vividos pelos atores Kall Freitas (Judas Iscariotes), Vinicius HPR (Pedro), Cadu Machado (Tiago, filho de Alfeu), Nathan Silva (João Zebedeu), Antônio Filho (Judas Tadeu), Alexandre Gomes (André), Ander Cabral (Tomé), André Ferreira (Bartolomeu), Kevin Souza (Mateus), Vitor Sales (Filipe), Emanuel Ribeiro (Tiago, filho de Zebedeu) e Amilton Junior (Simão).
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