Acompanhei diuturnamente as
votações do processo de impedimento da presidente Dilma Roussef. Já disse sobre
a desfaçatez de grande parte do eleitorado e me veio a mente a fala de Lula
quando esteve na Câmara dos Deputados, de que ali existiam 300 picaretas.
Os parlamentares que votaram a
favor do impedimento, em sua maioria esmagadora, não estavam preocupados com a
questão constitucional, mas sim, em vingança, em perfídias regionais, em agrado
àqueles aos quais devem o mandato e a uma parcela do eleitorado. Sem falar, é
claro, em interesses escusos.
Não havia uma preocupação com
legalidade ou legitimidade da maioria. Quase todos apelaram para questões que
nada tinham a ver com o que estava sendo votado. E pior: o presidente da Casa e
articulador do impedimento de Dilma, Eduardo Cunha, não tem condições morais de
estar na Casa, de presidir a Câmara e muito menos de presidir o processo de
impedimento.
Repito que não sou petista, só
votei em Lula e Dilma por falta de uma melhor opção nos segundos turnos das
eleições presidenciais, mas jamais compactuarei com golpe. Venho de longe.
Conheço história. O movimento das ruas me fez lembrar o Chile da época de
Allende, quando a sociedade estava dividida e nas ruas, em defesa e no ataque
ao seu governo. Mas ele não obteve maioria no Congresso, que articulou o golpe,
com apoio dos EUA.
Não se consegue governar com
minoria. Quem sabe um pouco de política entende que há necessidade de
negociação para conquistar a maioria. Dilma fez isso, mas não conseguiu eleger
o presidente da Câmara e do Senado. E o que é pior: foram eleitas duas figuras
despudoradas, oportunistas, que são Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Cheguei a dizer(e escrever) que ela teria
dificuldade para governar.
Não deu outra, pois não governou,
nesses 16 meses. A crise econômica se agravou. Não por culpa dela, mas das
relações internacionais que ficaram desfavoráveis com a redução de crescimento
na China, principalmente. Aliada a ela, as denúncias de corrupção ganharam
notoriedade coisa que jamais ocorreu. Tanto que, pela primeira vez,
industriais, empresários e políticos de primeiro escalão estão sendo
processados e presos.
Se a economia vai bem, o governo vai
bem. Em qualquer lugar do mundo. Seja governos de direita ou de esquerda. A
ditadura militar só foi deplorada pelo povo brasileiro quando a economia ruiu.
Antes, só os resistentes, uma minoria insignificante, enquanto quantidade, a
combatiam. A maioria era omissa. Quando veio a crise do petróleo e o fim do “milagre
brasileiro” é que a classe média passou a deplorar o sistema ditatorial.
No Chile, não foi fácil tirar Pinochet,
que implantou a ditadura mais cruel do continente. Assumiu o poder e lá ficou
por quase 18 anos. E foi necessária uma campanha inteligente, difícil, como
mostra o filme “NO”, para tirá-lo do poder. Ou seja, se a economia vai bem, a
classe média satisfeita, no poder pode estar Brizola, Prestes ou Hitler que a
maioria aprova. Se a economia vai mal, pode estar no poder o Papa, um santo ou
um Deus, que o povo ficará contra.
O golpe em Dilma é, na verdade,
um golpe na democracia. Escrevi isso no Face de Paulo Feijó, que votou a favor
do golpe. Só para registro, pois a história vai mostrar isso. A Igreja já pediu
perdão por seus crimes. No Chile, até o Judiciário (coisa rara no mundo) pediu
perdão pela omissão na época da ditadura, que matou milhares e torturou mais de
40 mil. Os golpistas de hoje na Câmara dos Deputados, afora aqueles que votaram
porque são fascistas, nazi-fascistas, serão cobrados pela História, para onde
tendem a entrar como oportunistas, levianos, golpistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário