Um dos principais inimigos do presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha, o ex-governador Anthony Garotinho, esteve em Brasília
conversando com a presidente Dilma com o vice, Michel Temer, com quem tem boas
relações. Em entrevista ao programa Jogo do Poder, da CNT, que foi ao ar na
noite neste domingo (01), ele revela ter sugerido aos dois um ‘ato de
grandeza’, que seria uma renúncia coletiva para tirar o país da crise e livrá-lo
das mãos de Eduardo Cunha. “Não podemos ter um parlamento comandado por um
ladrão”, disse o ex-governador. A entrevista foi reproduzida no jornal O DIA
pelo repórter Caio Barbosa, que participou do programa. Leia alguns pontos da
fala de Garotinho durante o programa:
AVALIAÇÃO DO CENÁRIO POLÍTICO BRASILEIRO – Estamos num
caminho perigoso. O melhor seria a presidente e o Michel Temer terem a
humildade de dizer que não há governabilidade e convocassem eleições para que o
povo pudesse votar. Ela se queixa de mandar as coisas para a Câmara e o Eduardo
Cunha só votar as pautas-bomba. Ela tentou e não conseguiu. Ao contrario do que
as pessoas pensam, a Dilma não está sendo julgada por corrupção. Mas por
pedalada fiscal.
SOBRA AS TAIS PEDALADAS FISCAIS – São dois pontos: ela tinha
convênio com o Banco do Brasil e com Caixa Econômica. O BB pagava aos
produtores o dinheiro do plano Safra e o governo pagava a diferença, a
equalização. Com a Caixa era o Bolsa Família. Ela pagava e até o fim do ano o
governo deveria devolver o dinheiro. Mas no fim de 2014 o governo não pagou e
ficou um buraco. Houve roubo? Não. Houve uma dívida do governo federal com os
seus bancos públicos. Isso é certo? Pela Lei de Responsabilidade Fiscal, não.
Mas isso é motivo para cassar um presidente da República? O Lula fez isso. O
FHC fez. Todos os governadores fazem. O Rio não faz pedalada, mas uma maratona
fiscal. É muito pior. E nem paga salário!
OUTRO CRIME QUE DILMA TERIA PRATICADO – Ela editou oito
decretos de suplementação sem autorização do Congresso. O que todo mundo sempre
fez. O maior destes decretos foi feito pelo Temer quando Dilma estava viajando.
Então, por que tirar ela e não ele? Sou a favor de tirar os dois. O que PT fez,
com a cúpula antiga de José Dirceu, Delúbio, Vaccari, olha… mas trocar isso por
Eduardo Cunha, Moreira Franco, Eliseu Padilha e essas figuras carimbadas como
Jader Barbalho e Sarney?! Pelo amor de Deus!
SAÍDA PARA A CRISE – Eu prego a renúncia de Dilma e Temer,
falei isso para os dois. É mais digno. Foi o que falei com o Temer: “você e a
Dilma têm de chegar na televisão e dizer à população que, pelo bem do país, vão
colocar os mandatos à disposição para que o povo eleja alguém com legitimidade
para arrumar esta confusão.
EXONEREI CUNHA PORQUE ERA LADRÃO – Tenho boa relação com
ele. E perguntei o que vão fazer com o Cunha. Não podemos ter um parlamento
comandado por um ladrão. Eu demiti Cunha da Cehab (Companhia Estadual de
Habitação) como ladrão. E esse homem hoje está aí…
O QUE SE VIU DELE ATÉ AGORA É FICHINHA – O que se descobriu
dele até agora é fichinha. O Ministério Público sabe. A delação do Ricardo
Pernambuco, da Carioca Engenharia, deu o número da conta, o nome do banco, e os
valores depositados em Israel, na Suíça e nos EUA. São R$ 52 milhões só da
Carioca Engenharia. E a Andrade Gutierrez? E as outras todas? Como um cidadão
pode presidir o parlamento brasileiro sendo réu do STF por corrupção?!
A CONVERSA COM DILMA – Estava muito abatida. Ela me disse:
“Veja como são as coisas: vou ser condenada num julgamento comandado por um
bandido”. Eu respondi: “a senhora sempre soube que ele era bandido. Ele não é
bandido por estar julgando a senhora. É bandido há muito tempo. Vocês deixaram.
Bandido é assim. Ameaça pular a janela. Ameaça arrombar a porta. Daqui a pouco
ele entra na sua casa. Foi o que aconteceu”. Ela perguntou: “o que você acha
que devo fazer? Tem gente que acha que devo sair, outros que devo ficar
resistindo. Eu falei: “presidente, por que a senhora não toma a iniciativa e
entrega o mandato para que o povo escolha?”.
REAÇÃO DA PRESIDENTE – Não posso falar. Mas ela ligou para o
Ricardo Berzoini (Secretário de Governo) e disse: “O Garotinho deu uma boa
ideia. Falou para convocarmos uma cadeia de rádio e televisão, a imprensa
internacional e eu falar que saio, mas para o Temer sair também e o povo
escolher o novo presidente”.
TRAIÇÃO DE SÉRGIO CABRAL – Mas aí não passa (risos).
Deputado não quer abrir mão de mandato. E ela estava muito chateada. Disse:
“olha, Garotinho, tudo que eu e o Lula fizemos por aquele Sérgio Cabral e ele
me manda o filho vir aqui votar contra. Isso é coisa de um vagabundo. Gente sem
palavra”.
A CRISE NO ESTADO – Avisei que isso iria acontecer. Quando
começaram a dar incentivos fiscais para termas, casas de massagem, para o
cabeleireiro da mulher do Cabral, eu sabia que o negócio iria quebrar.
ISENÇÕES IMORAIS – O governo federal emprestou o dinheiro.
Chegou a hora de pagar. Nos últimos 6 anos, o Rio concedeu de incentivos
fiscais e diferimentos R$ 138 bilhões. Isso dá para pagar a folha dos
servidores por cinco anos. Uma coisa é dar incentivo, como eu dei para
Peugeot-Citroën, para o Pólo Gás-Químico, que gera emprego e renda. Outra é dar
para termas. É até imoral.
DESCULPA ESFARRAPADA – A crise no governo estadual não tem a
ver com royalties. O Estado recebia R$ 8,5 bi e agora recebe R$ 5,5 bi São 3
bi. Num orçamento de R$ 76 bi não é nada. Campos perdeu R$ 1 bi no orçamento de
R$ 2,5 bi e nem por isso atrasou salários. A crise no Rio tem três pilares
imperdoáveis: a farra dos incentivos fiscais, o aumento da terceirização —
alugaram até ar refrigerado de escola e viatura da polícia. E o aumento
exponencial da corrupção.
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