Desigualdade aumentou desde da crise de 2008 e chega ao ápice em 2015
2015 será lembrado como o primeiro ano da série histórica no qual a
riqueza de 1% da população mundial alcançou a metade do valor total de
ativos. Em outras palavras: 1% da população mundial, aqueles que têm um
patrimônio avaliado em 760.000 dólares (2,96 milhões de reais), possuem
tanto dinheiro líquido e investido quanto o 99% restante da população
mundial.
Essa enorme disparidade entre privilegiados e o resto da humanidade, longe de diminuir, continua aumentando desde o início da Grande Recessão, em 2008. A estatística do Credit Suisse,
uma das mais confiáveis, deixa somente uma leitura possível: os ricos
sairão da crise sendo mais ricos, tanto em termos absolutos como
relativos, e os pobres, relativamente mais pobres.
No Brasil, a
renda média doméstica triplicou entre 2000 e 2014, aumentando de 8.000
dólares por adulto para 23.400, segundo o relatório. A desigualdade, no
entanto, ainda persiste no país, que possui um padrão educativo
desproporcional, e ainda a presença de um setor formal e outro informal
da economia, aponta o relatório.
Em O preço da Desigualdade, um dos últimos livros de Joseph E. Stiglitz, o Nobel de Economia utilizou uma poderosa imagem da Oxfam para ilustrar a dimensão do problema da desigualdade no mundo: um
ônibus que por ventura transporta 85 dos maiores multimilionários
mundiais contém tanta riqueza quanto a metade mais pobre da população
mundial.
Hoje, essa impactante imagem, plenamente em voga, ganha a companhia de outras que deixam latente a crescente desigualdade entre os privilegiados e o resto do mundo: um de cada 100 habitantes do
mundo tem tanto quanto os 99 restantes; 0,7% da população mundial
monopoliza 45,2% da riqueza total e os 10% mais ricos têm 88% dos ativos
totais, segundo a nova edição do estudo anual de riqueza publicado na
segunda-feira pelo banco suíço Credit Suisse, feito com dados do
patrimônio de 4,8 bilhões de adultos de mais de 200 países.
O que causou esse novo aumento da disparidade? A entidade financeira
aponta a melhora dos mercados financeiros: a riqueza dos mais ricos é
mais sensível às subidas de preço de ações de empresas e outros ativos
financeiros que a do restante da população. No último ano, os índices de
referência dos mercados das principais bolsas europeias e
norte-americanas, o Eurotoxx 50 e o S&P 500, subiram 10%.
Outro dado dá base à tese do aumento da desigualdade: ainda que o
número dos muito ricos (aqueles que têm um patrimônio igual ou superior
aos 50 milhões de dólares (195 milhões de reais) tenha perdido
aproximadamente 800 pessoas desde 2014 por conta da força da moeda
norte-americana frente ao resto das grandes divisas, o número de
ultrarricos (aqueles que têm 500 milhões de dólares (1,95 bilhão de
reais) ou mais aumentou “ligeiramente”,segundo o Credit Suisse,
para quase 124.000 pessoas. Nem sequer o ajuste pela taxa de câmbio é
capaz de neutralizar o aumento. Por país, quase a metade dos muitos
ricos vive nos EUA (59.000 pessoas), 10.000 deles vivem na China e 5.400 vivem no Reino Unido.
Com esses dados, não é de se estranhar a satisfação mostrada na
segunda-feira pelo responsável pela Gestão de Patrimônios do Credit
Suisse para a Europa, o Oriente Médio e a África, Michael O'Sullivan: seu negócio não deixou de crescer desde o estouro da maior crise desde a Segunda Guerra Mundial.
“Nossa indústria está em pleno crescimento, a riqueza seguirá com sua
trajetória de subida”. Suas previsões não podem ser mais eloquentes. O
número de pessoas com um patrimônio superior a um milhão de dólares (3,9
milhões de reais) crescerá 46% nos próximos cinco anos, até chegar aos
49 milhões de indivíduos.
Toda a riqueza mundial em seu conjunto, por outro lado, crescerá até
2020 um robusto, mas inferior, índice de 39%. Na Espanha, o número de
pessoas com patrimônio superior a um milhão de dólares (3,90 milhões de
reais) chegou em 2015 a 360.000 pessoas, 21% a menos do que no mesmo
período em 2014. A Espanha é o nono país que mais perdeu milionários no último exercício. Da mesma
forma que o restante da zona do euro, a evolução é distorcida pela
fragilidade do euro frente à moeda norte-americana.
(matéria retirada do jornal espanhol El País)
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