Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







sábado, 19 de novembro de 2011

A era das banalidades

A "morte de Deus" a partir do "Renascimento" e,  principalmente, do "Iluminismo" abriu espaço para a ciência e a legislação sobre os "costumes" - o ser moral forçado pela legislação que impõe regras e pune quem descumpri-las. A ciência avança enormemente e é endeusada e torna-se, de certa forma, uma "religião". A fé em Deus foi substituída pela fé na ciência. A deusa Ciência.

Com os avanços em todas as áreas do conhecimento, chegamos ao final do século XIX e, até, o início do século XX, antes da primeira guerra "mundial", com o capitalismo vivenciando uma época de ouro e os povos acreditando no coletivo, no Estado; e a Europa se vangloriando de seus feitos e recebendo os louros de ser o centro do mundo civilizado.

Eclodiu a guerra e iniciou-se o que seria considerado, 90 anos depois, o Século da Barbárie, com os conflitos entre nações envolvendo o mundo todo e as sucessivas guerras localizadas e invasões de países ricos e poderosos belicamente em países com quase nenhum poder bélico, sendo o terror promovido pela Inglaterra, França, EUA e União Soviética (depois, Rússia). 

Claro que nada se compara ao extermínio de judeus pelos alemães e a II Guerra Mundial. Dois episódios que provocaram o repensar sobre as "verdades" estabelecidas. Se Deus havia caído em descrédito na Modernidade, a Ciência caiu em descrédito na Contemporaneidade. A ética foi substituída pela moral e esta recebeu o golpe certeiro com a criação da "cultura de massa", o gosto fabricado em laboratórios e intronizado nas mentes via sistemas integrados de comunicação.

Com a Ciência e o Estado desacreditados e já há muito sem a existência de Deus para normatizar condutas, o existencialismo ressurge com muita força e a ética, a moral, passam a ser individuais. A "salvação" não é mais "do mundo", mas do sujeito. O "barulho" dos pequenos grupos forçam mudanças radicais de comportamento. Porém, o capitalismo tão combatido se refaz, assimila os golpes e usa  contra-si a favor-de-si. 

A globalização iniciada com os "descobrimentos" é reforçada com a tecnologia avançadíssima graças à "descoberta" do espaço e às centenas de satélites que integram as comunicações. Surge o "grande irmão", mais um golpe, desta vez, na individualidade. Foi-se a ética e a moral para o espaço. E, sem ética, sem moral, sem Deus e com a ciência sempre se desdizendo, além dos contingentes de reserva do capitalismo cada vez maiores, cresce exacerbadamente os níveis de violência, individual e coletiva.

O século XXI surge assistindo a continuidade do terror e o aumento da violência, além do medo coletivo. Um tempo de niilismo, de descrença no outro e nas instituições. E alguns pensadores voltam-se para Platão: é melhor ser justo ou injusto? O ser humano sabe, desde Platão, que ser justo é bom para os outros e ruim para si. Ser injusto é ruim para outros e bom para si. Então, o que é o bem? 

Vivemos a era da banalidade. Banaliza-se as artes, a crítica, a violência... Sabemos que temos tudo para sermos felizes e o estresse, contudo, arrasa com qualquer pretensão de felicidade. Nunca o "ter" foi tão cultivado e, em tempo algum, o "ser" foi tão esquecido. O dia-a-dia revela algo inimaginável há algum tempo: mocinhos e bandidos não são mais identificáveis pela coletividade. "O bom é quem faz o bem para mim e o mau é quem faz o mal para mim". 

E a vida continua. Sobre minha angústia o velho Prestes diria: "tem outra vida? Não? Então, viva essa da melhor maneira possível".   

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